Quase Famosos
Nunca me vi em um filme como quando assisti “Quase Famosos”. Dirigido por Cameron Crowe e com um elenco merecedor de várias estatuetas. Talvez seja porque, eu tenha visto na história da personagem de Patrick Fugit, o jovem William Miller, minha própria história. Na verdade eu nunca conheci uma banda de rock tão de perto, nem faço parte da geração dos anos 70, já que nasci em 1969, mas me sinto intimamente ligado a esta geração.
Meu primeiro contato com a música foi na escola de música da igreja, meu primeiro instrumento foi o violino e eu tinha 12 anos. Hoje aprecio muito este instrumento, assisto as filarmônicas e seus solistas. Mas aos 14 anos me deparei com o instrumento que mudou minha relação com a música; a bateria. A bateria não era bem vista pelos cristãos naquela época, era um considerado “instrumento do capeta”, a teologia progressista serviu para desarticular este discurso e eu vi com meus próprios olhos a primeira bateria a entrar na minha igreja. Nunca aprendi tocar bem bateria, depois eu tentei o violão, a gaita e muitos outros, até descobrir que eu não era músico, mas apenas um apaixonado por música.
Voltando ao filme, apesar de me ver naquele garoto de 15 anos e reviver momentos mágicos da minha juventude, sei que este filme não é sobre mim, mas sobre uma geração inteira que vivenciou um momento histórico da música mundial; o advento do Rock end Roll. O filme trata do encantamento pelo Rock, trata do descobrimento do amor, da ruptura da inocência, do paradoxo existencial de viver no mundo real.
O filme que se passa em 1973, o mundo dessa época vivia mais uma das muitas crises cíclicas do capitalismo (como diria Marx); a crise do petróleo, enquanto o Elvis Presley, mais maduro fazia o concerto "ALOHA FROM HAWAII”. Por outro lado, foi o ano da efervescência do rock progressivo, em 1973 o Led Zeppelin lançava “Houses of the Holy” (Templos Sagrados), o Jethro Tull “A passion Play”, o Pink Floyd “Dark Side Of The Moon” e o Black Sabbath lançava “Sabbath Boody Sabbath”, só para exemplificar. Vivíamos, contudo na sombra de Woodstock, de Hendrix, Joplin, Dilan e muitos outros.
O que me encantou neste filme, foram os olhares de perplexidade daqueles jovens diante de seus ídolos. A juventude desta época, por sinal, deu uma lição ao mundo protestando contra as guerras e a exploração da pobreza. Movimentos de “contracultura” que se iniciaram nos anos 60, como foi o caso dos hippies, nos anos 70 muitos hippies eram soldados que haviam retornado do Vietnã. A trilha sonora, por sua vez, é nostálgica, com músicas como “Sparks” (The Who) e “Thats the Way” (Led Zeppelin) conduzem aos amantes do Rock a uma espécie de “nirvana”.
Hoje sou um homem, que estuda e trabalha, com formação em história, pai de dois adolescentes e casado com uma pedagoga respeitável. Assisto a documentários, na maioria do tempo estou ocupado com minha atividade profissional. Ninguém suspeitaria, pela minha postura atual, mas há algo dentro de mim que me mantém ligado a um passado, inconseqüente talvez, mas profundamente marcante. Toda vez que assisto a filmes como “Quase Famosos”, o adulto dentro de mim balança e o menino me dá a mão, me levando de volta a um mundo que não existe mais, embora esteja vivo nas minhas lembranças.