Liberdade observada

Mudança de região traz novidades, tanto na esfera de costumes e tradições quanto nos fatores climáticos do lugar.

Quando me mudei para Ilha Grande, pequena cidade litorânea no norte do Piauí, o meu organismo lutou para se adaptar ao novo clima.

Alguns probleminhas de saúde quase me arrastaram de volta para Brasília. Não apenas eu, mas o meu marido e os meus dois filhos se ressentiram com a mudança climática.

Entretanto, tudo depende da adaptação. Passados vários meses nós conseguimos vencer a indisposição física e psicológica e finalmente fincar nossas raízes.

Ultrapassada a barreira fisiológica não houve dificuldades para encararmos os costumes e as tradições diferentes das anteriormente vivenciadas.

Cidade pequena onde todos se conhecem e sabem das ações de seus habitantes. Esse fator pegou meus dois filhos de surpresa.

Antes presos dentro de casa e do quintal com portão de cadeado (o medo da violência faz com que tornemos reféns de nós mesmos) eles se empolgaram com a liberdade conseguida no novo ambiente.

Soltos se esqueceram que a vida dá, mas cobra.

Os dois empreenderam um passeio diferente do habitual sem uma prévia autorização.

Ficaram calados e nada comentaram pensando estarem incógnitos.

Conversas de boca em boca chegaram aos meus ouvidos e do meu marido: Viram nossos filhos andando sozinhos na direção do Morro Branco, lugar repleto de dunas de areia e lagoas e relativamente calmo, porém não aconselhável para crianças passearem sozinhas (talvez pelo perigo das águas profundas de algumas das lagoas ali existentes).

Souberam à noite, através de mim e de meu marido, que possuíam liberdade para agirem de modo correto, caso contrário haveria alguém para nos contar qualquer travessura que ambos fizessem.

A partir daquele pequeno incidente não tivemos mais transtornos e preocupações com os nossos peraltas.