ESCOLHAS

Sabe o que mais me incomoda na vida?

É saber que a maior parte dela eu, assim como muitas outras pessoas, passo fazendo coisas das quais não gosto ou as quais não quero fazer. Em contrapartida, atividades que realmente me trazem prazer, quase não têm lugar no meu corre-corre diário.

O que eu mais gosto de fazer?

Ah, isto é fácil! Ler, escrever, passear, viajar, cantar, assistir bons filmes e boas peças teatrais! E se isto tudo estiver acompanhado de pessoas que eu gosto, tais como filhos, marido, amigos, aí então é perfeito!

O que não gosto?

Bem, a maioria dos serviços domésticos me desagrada. Ouvir pessoas desinteressantes, correr atrás do tempo, fazer compras em supermercado, e por aí vai...

Pois bem, se sei exatamente o que gosto e o que não gosto de fazer, porque "cargas d'água" eu continuo realizando exatamente as tarefas que abomino?

O problema é: para chegarmos àquele estágio de se fazer somente o que gostamos, temos que passar por aquilo que precisamos realizar.

A equação vem a seguir, e a solução se alguém souber me conte...

Ler e escrever? Adoro! Porém demanda tempo, paciência, concentração e principalmente (para mim) silêncio. E como é difícil conseguir reunir em um só dia todos estes fatores!

Sonho com um momento sublime de criação em que poderia contar com as 24 horas do dia debruçada sobre o teclado do computador, esperando que surgissem as palavras, as frases, os devaneios...

Vinte e quatro horas? Dez minutos e a campainha toca; encomenda do correio, assinar, pegar o objeto, abrir (é a curiosidade!). Pronto, lá se vão as palavras voando como folhas de papel ao vento.

Meia hora e é o telefone que toca: - Poderia procurar um documento para mim que está na terceira gaveta da esquerda do móvel da sala? Sim, achou? Por favor você pode escanear e mandar para meu e-mail, mãe?

- Claro, não estou fazendo nada mesmo!

Nem retorno a meus pensamentos, e a máquina de lavar roupa termina seu ciclo e exige minha presença; meu estômago insiste em me avisar que é hora do almoço; o marido vem almoçar e ainda não preparei nada; agora são meus outros órgãos exigindo minha atenção, querendo exercer suas funções vitais para as quais foram criados. Enfim, tudo conspira para que eu perceba que sou uma pessoa e não uma máquina de escrever!

É a panela no fogão, é o rádio da vizinha no útimo volume, e pronto, a criatividade vai escorrendo pra dentro do ralo.

Viajar, passear? Tudo de bom! Quando consigo superar as limitações financeiras, surgem as conspirações das datas, dos compromissos assumidos, das coincidências de horários, etc.

Companhia dos filhos, marido e amigos queridos? Capítulo a parte, todos têm sua vida, sua agenda e também por que não, as coisas que "gostam" e as que "precisam " fazer.... Dai...

Obs. - Este texto foi escrito entre o tempo de fervura da panela de água para o macarrão, solicitações dos pedreiros que estão trabalhando no meu quintal em pleno sábado, e uma breve leitura de Salinger, que estou louca para terminar, mas...