IMPERFEITAMENTE FELIZ

Tenho por hábito abrir todas as noites uma página de um livro de mensagens e parábolas bíblicas e lê-la antes de dormir. Este gesto, por mais simples que possa parecer, proporciona-me o alento necessário ao final de cada dia corrido e (na maioria das vezes) estafante.

Mas hoje, extraordinariamente, resolvi abrir o livro pela manhã. É que este amanhecer marcaria (extraordinariamente) o início de um dia inteiro em que eu estaria aniversariando.

Desde que me dei conta de que aniversariar significa receber por vinte quatro horas, congratulações, mensagens, carinho, beijos, abraços. E (na mesma intensidade) que aniversariar implica em passar vinte quatro horas em introspecção, meditação e sensibilidade aflorada; passei a curtir este dia intensamente do início até o fim das vinte quatro horas diferentes.

Assim, resolvi que leria a mensagem quando abrisse os olhos pela manhã e que a levaria comigo por todo o dia do meu “níver”, como um perfume roubado num abraço, uma marca registrada por um beijo ou simplesmente como uma peça de roupa. Assim o fiz.

Ainda na penumbra do quarto minhas mãos descortinaram a página de número 220 do livro, apresentando aos meus olhos enevoados a mensagem que nela continha: Sede Perfeitos.

“Nossa! Logo esta hoje?!”

Acabara de acordar, não tinha tido tempo nenhum para meditar, mas sabia de antemão, (das muitas viradas de idade) que me encontrava mais longe da perfeição do que sinceramente gostaria. Porém, continuei a leitura.

E à medida que mergulhei naquele parágrafo profundo, fui compreendendo que não deveria tomar o título ao pé da letra. Que sossegasse minha aflição, uma vez que nenhum habitante deste plano inferior se igualaria em perfeição ao Pai Celestial.

Sede perfeito em sua imperfeição, foi o que aquelas linhas foram delineando a mim nesta manhã de meu aniversário, enquanto eu me recompunha do entorpecimento do sono. Você não precisa sair por aí tentando montar num cavalo alado para sobrevoar este planeta das alturas (na altitude dos imaculados), pois se cá estamos com duas pernas e dois pés, é para que nos equilibremos direitinho no chão, onde é o nosso lugar.

Um suspiro de alívio saltou para fora da cama me levando junto a lavar o rosto. “Parabéns a você em sua imperfeição!” Foi o que minha mente desejou àquela mulher (que se vê menina) no espelho implacável. “Parabéns pela vida que não é perfeita”! Foi o que meu coração gritou àquela menina (que não se vê mulher) a minha frente.

E como numa festa que está apenas começando, a porta do quarto se escancara escandalosamente para dar passagem a um corpinho vestido de pijama que sem licença prévia interrompe meu monólogo interior com um “superestabanado" abraço e um supersincero: “Te amo mãe!”

“É?( Seco umas lagriminhas fujonas)... “Assim com este meu jeito imperfeito de ser?!”

Tá bom! Se é pra ser assim, então, que me abracem, que me beijem, que me mandem mensagens e emails e soprem as velinhas comigo ( só não as contem) todos aqueles , que me amam e me aceitam exatamente do jeito que sou: imperfeitamente feliz.

E, se porventura, houver alguém que não me ame deste jeito, está tudo bem! Na mensagem que ficará coladinha em mim o dia todo, está escrito “que você seja imperfeitamente feliz também!”

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 13/04/2010
Reeditado em 14/04/2010
Código do texto: T2194629