CINISMO X IGNORANCIA

O atual detentor do cargo de prefeito do município de Niterói no Estado do Rio de Janeiro, diante da calamidade ocorrida no morro do Bumba, veio a público fazer uma declaração constrangedora. Não sei se para angariar adeptos ou por ignorância, aquele senhor teve o desplante de comparar a tragédia fluminense com a tsunami que varreu a Indonésia naquele fatídico final de ano.

Ora, a tsunami foi provocada por um movimento tectônico absolutamente imprevisível e fora, completamente fora de qualquer forma de controle humano.

O desmoronamento do morro em Niterói foi tragédia preparada, orquestrada e executada pelo poder público, no que poderíamos chamar de festival de incompetência, descaso e falta de cidadania (para não dizer vergonha).

No primeiro ato, a prefeitura autorizou, quando fez vista grossa para o lixão que foi instalado ali sem qualquer obra para minimizar seus efeitos nocivos.

No segundo ato, foi solicitado à Universidade, estudos sobre os impactos ambientais e sugestões para as providências que deveriam ser tomadas para solucionar os problemas apontados. Mas passou o período eleitoral, mudaram as pessoas e os laudos, os relatórios e as sugestões foram engavetados.

No terceiro, foram executadas obras de “urbanização”, com a consequente distribuição de energia elétrica, água, coleta de lixo, carnês de IPTU etc.

Nunca houve um trabalho para remoção das pessoas nem para o plantio de cobertura vegetal que de alguma forma minimizasse o efeito tóxico do lixo em decomposição. Por todos esses vinte ou trinta anos, o chorume e o gás metano continuaram sendo produzidos na mesma proporção em que crescia o número de residências, sob a concordância dos prefeitos, no mínimo omissos, sem qualquer obra para a contenção da encosta que desmoronou quando a chuva abriu o veio por onde escapou o gás que explodiu em contato com o oxigênio da atmosfera, fazendo com que cem mil toneladas de lixo abrissem mais aquela chaga no coração fluminense.

Diante das circunstancias e pelos antecedentes dos dois desastres, eu opto pelo cinismo dos nossos homens públicos, tantas e tantas vezes reiterado.