Carta Para Um Filho Ausente

Você chegará, mesmo que eu não lembre mais seu nome, mesmo que eu ande de preto, de luto, de preto...

Mesmo que eu não tenha mais esperança, e os velhos amigos, amigos velhos já tenham seguido a viagem eterna.

Você chegará, mesmo que a cidade cresça e as árvores sejam apenas uma lembrança antiga, mesmo que os pássaros tenham asas gigantes e se alimentem de combustível.

Você chegará de cabelos grisalhos, pele enrugada, com ou sem nenhum dinheiro. Falará do mar, de como ele é grande, das avenidas que só passam carros, das pontes, dos aviões, dos metrôs. Falará para me até das suas farras, das mulheres, dos drogados, das pessoas que são boas e te deram comida, das ruins que te lançaram olhos de desconfiança.

Assim, embora tudo tão descrente para mim, que perdi Rosinha afogada, filha caçula que você só viu nascer... Mas você filho chegará, e eu tremulo da velhice estarei, mas meus braços que te prometem um abraço forte, erguerá uma força que alcança o alto da montanha de tanta saudade e felicidade.

Agora deixa eu falar, que a casinha ainda é de barro, mesmo a cidade se desenvolvendo, não me acostumo não José com esses berenguedê. Ainda fumo meu cachimbo velho, vicio que o seu Doutor pediu para deixar.

Filho você chegará com o desejo de descansar, então sentará no banquinho da praça, cruzará as pernas e lembrará o quanto foi dura a vida, o quanto foi bom conhecer lugares e o quanto perdeu estando tão longe da família, sem ao menos se despedir da sua velha mãe que hoje no leito da morte chamou por seu nome.

Zilma 13/04/10

zilma lopes
Enviado por zilma lopes em 13/04/2010
Código do texto: T2194121