IM - PRECISO

Pulei mais de quatro metros de altura, uma imensidão, de susto, ao te ver, coisa assustadora!

Ninguém reparou na minha transformação, transição, de homem pacato para o super herói sem nome, coisa de cinema, parece que não existo, para chegar onde quero, tenho que subir montanhas, galgar escaladas homéricas, vencer, como Hércules, os doze trabalhos, ossos do ofício, tudo em nome da prosperidade da prole, tudo para salvar meu mundo, meu mundo de ilusões.

Quantas “coisas” ainda terei que escrever para preencher estas lacunas, estes espaços em branco? E preto. Colorido, nem pensar, pensei, as cores estampam meu visual, sou branco, sou negro, sou África e Portugal, mameluco maluco, brasileiro na ginga, pobre, rico em imaginação.

Gosto de palavrões, palavras sem sentido, como eu, como mesmo, sou indigesto, muitos pensam e daí, todos pensam, todos podem pensar, se soubessem o poder que possuem, não existiria tanta pobreza, de espírito, não seriam massificados, Zé Ramalho falou, vida de gado, prontos pro abate.

Não, não é cataclismo verbal, nem desabafo, nem bafo, são palavras que aparecem, feito loucas sensações, aspiração a poeta, não, apenas um teclado na minha frente e meus dedos frenéticos, pulando de letra em letra, formando este emaranhado de frases sem nexo.

Isto tudo é para que? Para te agradar. Para que estes olhos tão grandes? É para te ver melhor. Para que esta boca tão grande? É para te comer. Contos. Fábulas fabulosas, tempos nebulosos, o lobo é mau, eu também, tenho que pensar em mim, no meu sucesso, tenho que ser o melhor, muito melhor. A recompensa? Status.

No fim, tudo é como o início, uma tentativa em vão de me aproximar de mim mesmo, os outros? Quem? Milhões. Todos à espera de ganhar um milhão, todos, como eu, aspirantes a consumidores, ilhas, iates, capas de revista, glamour, fama e cama.

Acabou o sonho. Acordei. Os dedos estão cansados. A realidade sacode meu cérebro, tenho que produzir, meus filhos me esperam em casa, o pão nosso de cada dia não é só alimento, é saciar a angústia, a ansiedade, a fome de presença, tão afastado, correndo, trabalhando, onde estou? Onde eles estão, estarão bem?

Meu coração aperta, estarão seguros? Tenho que fazer mais, muito mais, é o sistema, é o meu sistema, pai que quer estar presente, mas o passado me persegue, fantasmas, tenho que pagar, perdoe as minhas dívidas, Pai.

Estou muito louco. Preciso de remédios, não destes manipulados, preciso de presença, afetiva, preciso de você. Quem é você?

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 13/04/2010
Código do texto: T2194000
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