Jornalismo matuto na banca acadêmica

O jovem itabaianense Adriano Eulálio faz curso superior de Propaganda e Marketing. Seu trabalho de fim de curso aborda o jornalismo que foi feito em Itabaiana nesses mais de cem anos de história da imprensa na terra de Abelardo Jurema. Na pesquisa, Adriano ressuscita velhos exemplares d’ “A Folha”, que atualmente encontra-se hibernando, à espera de que algum governante estimule seu reaparecimento como o mais antigo jornal oficial em circulação no interior da Paraíba. Outros jornais foram alvo da atenção do rapaz, a exemplo do “Combate”, editado pelo jornalista Arnaud Costa, e do meu “Jornal Alvorada”, um dos poucos mensários dedicados à literatura já produzidos em Itabaiana.

Antes que caia no abismo do esquecimento, é salutar que nossa imprensa seja rememorada em um trabalho acadêmico, e melhor seria que essa investigação do nosso passado chegasse às novas gerações. Porque nas páginas dos velhos jornais a vida pulsa e respira.

Existe um valor genuíno em atividades que não se inserem numa cultura de mercado. O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar é uma delas. Mas o reconhecimento da legitimidade e da importância dessas ações vem a ser fundamental para que essas atividades se mantenham e sejam úteis à sociedade. É o caso do jornal “Itabaiana Hoje”, editado pelo confrade Geraldo Aguiar, cujo amor pelo jornalismo lhe permite vencer os desafios de manter um jornal nesta cidade que pouco lê e muito menos reconhece o valor de uma publicação desse nível para a cultura do lugar. A recompensa virá no futuro, quando outro jovem se debruçar sobre a história de nossa imprensa e ter a sensação boa de que nossa cultura não se estagnou, graças à força de vontade e tenacidade de figuras iguais a Geraldo Aguiar, que se junta a outros grandes nomes do nosso jornalismo.

No meu livro “História de Itabaiana em versos”, agucei o olhar sobre as publicações itabaianenses do passado, desde o pioneiro que foi “O Município”, de 1908, passando por “A Notícia”, o “Correio da Semana”, “Gazeta da Manhã”, “O Jornal”, “A Cidade” e tantos outros mensários importantes com seus nomes de escol, a exemplo de Eugênio Carneiro, José Régis, Cecílio Batista, Pedro Muniz de Brito, Zé da Luz, Pedro Lopes, Jurandy Barroso, Nabor Nunes de Oliveira, Sabiniano Maia e Heráclito Cavalcante. Sem esquecer Arthur Coelho, o precursor do jornalismo em terras itabaianenes, tipógrafo e redator do primeiro jornal, “O Município”. O último jornal a circular foi “Tribuna do Vale”, que depois de seis anos caiu aos golpes da crise econômica.

Aqui e agora, a consciência dos nossos valores do passado nos faz acreditar nessa aventura doida que é produzir cultura numa terra tão árida. Orientado por um jornalista, o jovem Adriano Eulálio baseou suas pesquisas nos velhos jornais de Itabaiana, passando pelo “Gafanhoto”, humorístico tradicional da festa de Nossa Senhora da Conceição, editado pela poetisa Socorro Costa, prima do outro grande poeta Zé da Luz. Era um jornalzinho de fofocas da sociedade de então, de abordagem muito simplista e muito comportada também. Eis que eu e um grupo de rapazes nem tão direitos publicamos o jornal de festa “O Gaiato”, acho que foi no começo da década de 70. Nosso inconveniente e satírico jornalzinho mimeografado deu o que falar! Fomos todos excomungados pelo vigário, em momento especial da missa.

O atual estado de debilidade, indigência e alienação mental dos nossos jovens contrasta muito com a sagacidade, a ironia e, acima de tudo, o bom humor da rapaziada daquela época, que vivia sob o tacão de uma ditadura feroz, mas respirava o ar puro da arte, sem receber a influência nefasta da cultura de consumo e da mediocridade que viria caracterizar os tempos atuais.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 12/04/2010
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