Bacalhau e Língua Comprida
Andei pensando na sexta- feira Santa, no que ela significa e no que ela se tornou para muitas pessoas ao longo dos anos.
Comprava vinho verde no mercado quando ví duas senhoras, com seus carrinhos forrados de bacalhau, criticando dois homens, do tipo roqueiro ateu, por eles estarem comprando carne para um churrasco. “Que absurdo! Que sacrilégio!” Diziam.
Tudo bem que provavelmente o churrasco deles era uma provocação a alguém, provavelmente um vizinho, mas era nítido que eles não eram seguidores das tradições cristãs e que o fato deles não serem religiosos incomodava aos demais. Eles não tem o direito de terem seu credo ou mesmo de serem incrédulos? Isso não deveria ser respeitado?
Ao que parece a sexta-feira santa é um dia que não se pode comer carne vermelha, mas falar mal do vizinho pode!
Aliás, o fato de não comer carne vermelha se dá pela realização de um sacrifício por parte dos fiéis, uma abstinência aos prazeres da carne. Mas o bacalhau tornou- se muito mais ostentação do que qualquer carne vermelha.
Ok, vamos preservar as tradições, também comí bacalhau, só não nos esqueçamos da essência dessas tradições para não transformar a sexta-feira santa no dia do bacalhau.
Fiquei pensando naquelas duas senhoras.
Se mordessem a língua teriam pecado duas vezes!