## SAUDADE DAS COPAS PASSADAS ##

Novamente estamos na Copa do Mundo, desta vez na Rússia e em 2018. Nossa, o tempo passa muito rápido. Um dia desses estava na casa de uns amigos vendo o Brasil levar de 7 X 0, algo tão inacreditável, até mesmo pela velocidade dos gols. Sigo pensando que foi algo feito, comprado. Não é possível. Mas isso não vem ao caso agora.

Com a chegada da Copa sempre me vem as lembranças das que já se foram, a saudade dos que não torcem mais conosco, da vida que levávamos nas copas de ...70, 74, 78, 82, 86,90, 94, 98, 2002, 2006...

São tantas mudanças com o passar do tempo. Fico pensando em como estamos hoje e nos acontecimentos anteriores.

Desculpem ter partido da Copa de 70, mas foi à partir dela que passei a acompanhar as outras, apesar de não entender ainda bem o que significava. Em 70 ouvia meu pai repetir "pra frente Brasil!", sorrindo e me levantando nos braços. Quem não lembraria?

"Noventa milhões em ação

Pra frente Brasil

No meu coração

Todos juntos, vamos pra frente Brasil

Salve a seleção!!!

Bem, para uma criança, independentemente do sentido oculto que a letra da música revelava, ficou marcada como minha primeira Copa e um momento de alegrias (na época eu tinha apenas 5 anos). As imagens e a música me pareceram muito fortes.

Daí nos mudamos para uma casa onde morei até me casar. Desta casa é que guardo as lembranças das Copas seguintes. Era sem dúvida a casa mais animada do quarteirão. Todos os amigos sempre compareciam para jogar baralho, totó, dominó, ping-pong ou apenas para conversar e ouvir música.

Lembro que minha mãe não participava muito, mas meu pai acompanhou nossa adolescência de perto, conversando com nossos amigos, participando dos jogos no terraço de casa e discretamente "de olho" nos namoricos que iam surgindo à medida que amadurecíamos.

Mas toda essa festa era dobrada durante as Copas do Mundo. Era engraçado, a casa ficava cheia e quando o jogo acabava, se o Brasil tivesse ganho, ficávamos dançando e ouvindo música até o final do dia, caso contrário, a música ficava baixinha e (já adolescentes), sentávamos no muro para conversar e falar mal do time(rs).

Meu pai se exaltava com facilidade. Uma hora elogiando as jogadas e jogadores e em outras "esculhambando" todo o time (desculpe-me a palavra, mas era isso mesmo). Em 82 o alvo preferido dele foi o Sócrates, lembro muito bem quando ele errava e meu pai falava:

"o que que essa bailarina tá fazendo, dançando balé, dando laço nas sapatilhas?", "Jogou a bola pra quem? Pra mãe dele?".

E, apesar de bastar apenas um empate contra os italianos, fomos detonados pelo Paulo Rossi, saindo da Copa sem a vaga nas semifinais. Um balde de água fria em todos nós.

Em 86, o gol polêmico de Maradona contra a Inglaterra, que ficou conhecido como gol " a mão de Deus", resposta de Maradona quando perguntaram se o gol tinha sido feito com a mão.

Em 1994, após 24 anos de jejum, o Brasil chega ao tetra sobre a Itália. "Vai que é tua Taffarel" deu mais sorte, assim como Zagallo. Foi a era Dunga e destacou-se a má pontaria de Baggio. Resumo pequeno, digno de uma copa sem emoção (salvo o título, motivo pra nossa festa).

Bem, 2002 foi a Copa mais triste da minha vida, era a primeira copa sem meu pai (falecido em abril deste mesmo ano). Sinceramente, nada era mais como antes. Deu saudade de tudo e eu parecia olhar os jogos pelo retrovisor da saudade... Brasil era Penta, mas meu coração só sentia falta dele gritando com os jogadores.

De lá pra cá ando em busca das emoções perdidas... parece que nunca mais terá para mim uma verdadeira Copa do Mundo. Nós sempre assistíamos aos jogos na casa dele. Mas desde 2002 tanto faz o lugar onde assistir.

Depois disso veio 2010 e 2014, nada a declarar sobre elas.

Este ano pela situação do nosso país, confesso que não estava nem um pouco animada, mas é aquela coisa, quando entram em campo não dá para fazer de conta que não me importo. É o meu país, apesar do que estão fazendo com ele e conosco.

Na verdade, estarmos unidos para assistir a um jogo fazia a diferença. Os resultados, quando ruins, o tempo se encarregava de fazer esquecer... como já nem lembramos do 7 X 1... Mentira! Jamais vou esquecer essa vergonha.

Vamos para frente, amanhã tem jogo. Se o Brasil passar, fico feliz, claro, mas caso não passe não morrerei de tristeza. Estamos sim, passando por momentos nunca imaginados no Brasil e é com isso que realmente estou preocupada. Mas não vou entrar neste assunto.

No mais o texto era na verdade para falar de saudade, desta que não morre nunca.

TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 11/04/2010
Reeditado em 05/07/2018
Código do texto: T2191229
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