LUIZ LEITÃO / INÉDITO
LUIZ LEITÃO, O POETA DA ÁGUA ESCONDIDA
Nelson Marzullo Tangerini
O poeta Luiz Antônio Gondim Leitão Leitão, o Lili Leitão, nascido em Niterói, RJ, a 25 de janeiro de 1890, e falecido na mesma cidade, a 4 de junho de 1936, deixou uma série de sonetos espalhados em revistas e jornais da cidade fundada pelo Cacique Arariboia. E escreveu-os com diversos pseudônimos: o mais conhecido é Bacorinho.
Muitas vezes Lili nem assinou os sonetos-propaganda que escreveu, o que dificulta o nosso estudo.
Seu trabalho poético poderia ser encontrado em muitos jornais como O Prélio [direção de Brasil dos Reis], O Almofadinha [direção do poeta] e O Canastrão [direção de Nestor Tangerini], se estes jornais não tivessem se perdido para sempre.
O livreiro Carlos Silvestre Mônaco, um dos estudiosos da Roda do Café Paris, possui uns dois ou três exemplares – xerografados - do jornal O Almofadinha. E é lá que encontramos alguns sonetos humorísticos da lavra do poeta de Niterói, com o famoso pseudônimo.
Mexendo em papeis velhos, quase apodrecidos, deixados por meu pai, Nestor Tangerini, amicíssimo de Lili, eis que encontro dois sonetos deste fabuloso poeta fluminense: SORRISO QUE ENTRISTECE [sem seu nome e sem pseudônimo] e POR UM TRIZ, publicados no jornal O Almofadinha, anos 1920 [não é possível precisar a data]. Este último, com o pseudônimo Manoel da Beira Alta:
“SORRISO QUE ENTRISTECE
Criatura amada, por quem me desvelo,
Tua epiderme é mais branca do que espuma!
Talhada por divino camartelo,
Igual a ti não há mulher nenhuma!
A boca, os olhos, o nariz, em suma
Todo o teu rosto é a perfeição do belo,
Quando estás séria... Mas, sorrindo, és de uma
Fealdade, contra a qual eu me rebelo!
Quando sorris, ó minha doce amada,
A expressão do teu rosto é de quem chora
Porque mostras a boca desdentada!
E o meu desejo, então, é te mandar
Fazer uma visita, sem demora,
À ASSISTÊNCIA DENTÁRIA POPULAR!”
&
“POR UM TRIZ
Era o meu ai Jesus, meu bom bocado,
Uma mulata suco, da pontinha,
Uma cabrocha como me convinha,
Como convém a todo namorado.
E fiquei de tal forma apaixonado,
Amei com tanto ardor a mulatinha,
Que ultimamente, magro, pela espinha,
Já não dava mais conta do recado.
Preguei. Muito abatido, muito fraco,
Quase, meu Deus, que fui para o buraco...
A mulata deixou-me moribundo.
Hoje, porém, bem forte, bem sadio,
Graças ao CARÓGENO, desafio
A todas as mulatas deste mundo...”
Nós, que fazemos uma verdadeira varredura dos textos poéticos do maior poeta satírico fluminense, não podemos esmorecer. Quem sabe um dia publicamos, pela Nitpress, uma Antologia [completa e definitiva] do poeta da água escondida, acrescentada ao livro VIDA APERTADA, publicado em 1926 e reeditado por esta editora em 2009? Lanço aqui uma idéia: criemos um “Ciclo de Estudos Luiz Leitão”, para, juntos, pormos a mão nesta massa – poética, é claro.
Nelson Marzullo Tangerini, 55 anos, é escritor, jornalista, memorialista, fotógrafo, compositor, poeta e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, e da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.
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A foto é de Cristina de Andrade:
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[Niterói, em tupy-guarany, significa "água escondida"]