BATEDOR DE PÊNALTI

O velho Rêgo, meu saudoso pai, era almoxarife, músico e, nas horas vagas, jogador de futebol amador, dos bons. Fez o seu nome na minha terra natal, o Cedro, tocando clarineta na famosa banda “Euterpe Santa Luzia” e defendendo as cores do “Cedro Esporte Clube”, o time de futebol dos operários da fábrica de tecidos Cedro e Cachoeira.

Contam, os mais antigos, que ele chutava violentamente tanto com a perna direita como a esquerda, tendo um verdadeiro “canhão” em ambos os pés. Os goleiros adversários tremiam quando enfrentavam seu time, principalmente quando ocorria alguma falta e lá vinha ele pra cobrar. Pênalti, então, nem pensar em defender. Houve o caso de um, num jogo do Cedro contra o São Vicente, no campo deste, que o goleiro abandonou o arco, negando-se a tentar defender o pênalti a ser cobrado pelo velho Rêgo. Era um caso sério.

O time do “Ideal”, de Sete Lagoas, tinha um goleiro extraordinário, o Castilho. Esse moço era a estrela do time e, via de regra, salvava seu clube de derrotas nos jogos da liga amadora, muito disputada naquela época da minha meninice. Ele tinha fama de bom pegador de penalidades máximas.

Pois bem, certa ocasião se defrontaram as equipes do “Cedro” e do “Ideal”, num jogo válido pelo campeonato da liga. A partida seria decisiva, pois no primeiro jogo, realizado na minha terra, o “Cedro” havia ganhado de 1 x 0, num gol feito pelo “Chá” , um escurinho, veloz meia direita do time. E esse segundo jogo seria disputado agora em Sete Lagoas, na casa do “Ideal”, que necessitava da vitória para forçar uma terceira partida em campo neutro, para decisão do campeonato, segundo o regulamento da liga.

Um empate daria o título aos jogadores do “Cedro”, entre eles o meu pai, o velho Rêgo.

A partida transcorria num clima hostil, a torcida quase toda do “Ideal” xingando e provocando os jogadores do “Cedro” e os atletas do “Ideal” metendo a botina na canela dos adversários, esquecendo a bola e querendo ganhar no grito.

Foi quando aconteceu um pênalti a favor do “Cedro”, o juiz marcou e meu pai foi designado para a cobrança. Aí o povo ficou ouriçado, a torcida do “Ideal” apostando todas as fichas na habilidade do seu goleiro “Castilho” e a moçada do “Cedro” apostando na “bomba” do velho Rêgo.

Bola na marca fatal, o juiz apita, meu pai corre de cabeça baixa, fitando somente a pelota e desfere um petardo com a perna direita, bem no meio do arco. O goleirão do “Ideal”, bem postado, agarra o balão de couro mas não sustentou a violência do chute e foi jogado pro fundo das redes, com bola e tudo! ... “Cedro”, de novo 1 x 0.

Final de jogo, a torcida do “Cedro” invade o campo e carrega o velho Rêgo nos ombros, entusiasmada, enquanto a moçada do “Ideal”vai saindo devagar, alguns chorando e outros praguejando.

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B.Hte., 11/04/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 11/04/2010
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