A ÚLTIMA DO PADRE NAGIB

Barriga estufada, mãos para trás, cabelos brancos, andar vagaroso, fala calma e de um português íntegro com sua famosa interrogação: “Hein! Você está me convidando para ir almoçar em sua casa?” pois é, quem é que não se lembra dessa doce pessoa? Nosso querido Pe Nagib. Não existe um lugar nesta diocese e suas vizinhanças que nunca tenha ouvido falar dele. Não existe uma alma viva que tendo-o conhecido não conte uma história ou estória dele. Foi alguém que marcou os lugares que passou e as pessoas que conheceu.

Pe Nagib sempre que conhecia um lugar novo fazia história e grandes amigos. No meio dos padres não era diferente. Era amigo de todos e não perdia a oportunidade de estar junto deles seja em reuniões ou encontros de descontração. E hoje depois de alguns anos passados de seu falecimento as pessoas que o conheceram sempre contam um história na qual Pe Nagib é o protagonista. São histórias cheias de saudades e um humor, próprio do finado Reverendo. Dentre essas histórias tem uma que quero contar. Esta história que vou narrar tem um sabor especial por ser uma história póstuma e ser a última.

Após ter passado o período de luto e mais alguns dias, foram mexer nos pertences do finado afim de organizarem a casa paroquial para uma reforma e dividir seus bens entre os familiares. Dentre as coisa que se encontraram havia um antigo e pesado cofre cujo segredo o finado Reverendo levara consigo para o outro lado da vida. Houve a necessidade de se abrir o cofre para quem sabe se encontrar aí um importante documento ou quem sabe até alguma coisa valiosa. Só que, sem segredo, cofres não são abertos. Surgiu então a necessidade de recorrer a pessoas que tinham certa experiência em mexer com cofres.

Todas as pessoas da cidade que possuíam cofre tentaram abrir o dito cujo e, nada! A partir daí começou-se a criar um mistério em torno do caso do cofre. Muitos se interrogavam: O que será que tem dentro? Terá ouro ou pedras preciosas? Um mapa de algum tesouro? Na escola, os alunos comentavam com os professores e o mistério cada vez mais se estendia e se difundia. E cada vez que aparecia um sujeito para tentar abri-lo e não conseguia o mistério ficava mais picante. Vinham gente até de outras cidades, especialistas, peritos, expertos e nada...

Quando um desses peritos que por lá apareceram também fracassou, a fila de gente que se estendia pela rua da casa paroquial para saber o resultado era enorme. Um dos que estavam na multidão do lado de fora (pois dentro da casa também havia uma concorrência enorme para se chegar ao cofre) entrou na casa e aproveitando que os ditos peritos descansavam foi ao cofre e na maior tranqüilidade desvendou o segredo mas não puxou a porta. Foi ao povão e gritou: _ Consegui, descobri o segredo do cofre!!!

Com a exclamação do desconhecido todos correram para o quartinho onde ficava o cofre. Cada qual querendo ver melhor ser desvendado o segredo misterioso. As pessoas não continham-se em seus lugares. Tinha gente subindo uma nas outras. Na janela, então nem se fale. Tinha indivíduo até levantando telhas no telhado para enxergar a desnudação do mistério. E nesse clima de sai pra lá que eu quero ver, o descobridor do segredo foi puxando a porta na maior lentidão possível. As dobradiças cantavam rocas por uma lubrificação. Aquele roncado das dobradiças soava como que clarins em expectativa por algo grandioso. Quando os primeiros raios de luz deram vida àquele apertado compartimento encontraram ali, para o espanto de todos, algo bem típico do Pe Nagib: UMA LARANJA EMBOLORADA E UMA RAPADURA VELHA...

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 11/04/2010
Reeditado em 26/06/2021
Código do texto: T2190532
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