“O pastor negligente”
“O pastor negligente”
São cem ovelhas, todas saudáveis com lãs branquinhas como neve, são bem cuidadas, podes crer, mas como ovelhas necessitam de atenção, carinho, proteção... É muito trabalhoso, o pastor se cansa com toda certeza, as leva para pastar na grama mais verde e tenra, lhe dá água fresquinha e está sempre atento para que animal algum venha fazer mal a tão queridas ovelhas. Quando uma se extravia, vai a sua busca não importando o lugar onde esteja.
Este é o perfil do pastor cuidadoso, o cuidado é tanto que o seu descanso não é completo, pois a um pequeno sinal de perigo já está alerta pronto para defender vidas tão preciosas “mas não são todos assim.”
O pastor negligente gosta das ovelhas, a ovelha para ele é fonte de lucro, não as maltrata, mas só faz o que é indispensável para que elas sobrevivam.
O pasto é razoável, a água dá para matar a sede, mas não refresca... A pequena ovelha sem entendimento olha ao longe e vê grama verdinha, seu instinto é chegar até lá, mas não sabe que há obstáculo só vê o verde ao longe.
E lá vai ela toda segura de si, caminha, caminha e cansa, tropeça e cai, já não tem animo para continuar quer voltar, mas não consegue não sabe o caminho de volta, tenta ouvir a voz do pastor, mas não ouve só o que escuta é uivos de lobos o barulho do vento e vê a escuridão da noite...
A ovelha sente-se perdida, na sua inocência se encolhe entre os espinhos que se enroscam na sua lã. Tentando livrar-se, só se faz machucar mais e mais, sua pele é arranhada ficando cortes profundos, a pobre ovelhinha chora muito desesperada, mas ainda confia que o seu pastor vira em seu socorro.
No curral o pastor faz a contagem, pois no dia seguinte vai tosquiar as ovelhas, para a venda das lãs, conta, reconta, são apenas noventa e nove, falta uma.
Já é noite, a chuva cai copiosamente, o pastor até pensa em ir atrás da ovelha, mas depois releva. “Não iria adiantar procurá-la, além de ficar todo molhado e cansado sabia que a encontraria com ferimentos e faltando lã, portanto não lhe servira em nada, pois a lã suja com falhas e sangue lhe renderiam muito pouco.
Pensando assim exclamou:
-Ainda tenho noventa e nove.
Marlene Luiz
10/04/2010