A BELA, A FERA E A VIDA REAL...

E Bela nem bela era... Não tinha olhos azuis, nem cabelos louros, nem pele de cetim. Era só uma moça azul que gostava de brincar de sol. E o sol, pela amizade que lhe tinha, arranjou-lhe uns raiozinhos, pra que se distraisse quando estivesse sozinha. Foi assim que ela foi ficando iluminada...

Um dia, Bela passeando pelo Jardim da Fantasia, conheceu a Fera. E a Fera, nem feroz era... Não tinha rosto peludo, nem dentes pontiagudos, nem mãos disformes. Era só um moço de arco-íris que gostava de brincar de solidão. Ele queria mesmo parecer uma fera. Talvez acreditasse mesmo que fosse. Mas Bela não viu assim. Viu só a solidão de quem não sabia se encontrar...

Então Bela se aproximou da Fera que lhe mostrou um pouco do que era. Só um pouquinho, porque era de pouco assunto e preferia se esconder num silêncio reticente. Foi aí que os raios de sol saíram do coração de Bela. De repente a paisagem ficou azul, da cor da moça. E no meio do azul, raios que aquecem, espalham luz, prometeram espantar a escuridão...

O Jardim da Fantasia emergiu em claridade. Podia-se ver até as coisinhas mais pequeninas. Mas algo se escondia: o coração da Fera. Havia ali uma noite fechada, que nem o brilho da mais perene lua, nem os raios do mais radiante sol, conseguiriam diluir... Quando será que aquela noite se tinha feito? Nem as nuvens que estão sempre alerta souberam responder...

Então, a Fera, com medo da madrugada se foi. Bela ainda esperou por alguns dias, por algumas noites, mas o escuro se fez por completo. Ela também resolveu voltar. O Jardim da Fantasia era pura ilusão. Mas, antes teve o cuidado de deixar no meio do escuro um raiozinho de sol que tirou de seu coração. Que é pro caso de um dia a Fera, passando por ali, não se esquecer que ela existiu... Mesmo que por um breve instante de sol...