Arroz com linguiça

Aquele que tem como benefício trabalhista bom vale-refeição pode fazer uso cotidianamente de um restaurante que caiba no benefício. Para quem possui altos rendimentos de modo autônomo, um bom restaurante como opção é algo comum nas horas de intervalo para almoço. Mas para uma parcela dos trabalhadores o jeito é levar marmita de casa.

O sujeito não estava satisfeito com a academia que freqüentava. Bom, para dizer a verdade, não estava satisfeito com nada. Mas naquele momento elegera um alvo como forma de não resolver o motivo de tanta insatisfação. Antes de almoçar e ir para o trabalho, resolveu dar uma olhada naquela academia. Pior é que escolhera uma que não cabia no seu orçamento, era essa a desconfiança que trazia consigo. Mesmo assim, agendou uma entrevista com um consultor. Escolhera a unidade que fica em um dos endereços mais caros da cidade: Avenida Paulista.

Já no atendimento surpreendeu-se com a excelente forma física da recepcionista, o que lhe pareceu excelente tática de marketing. Mostrou-se inábil na comunicação com a simpática morena. Há dias que é assim mesmo, nem consegue ser simpático. Inseguro, aceitou preencher uma ficha, que funcionava como uma triagem, que depois seria encaminhada às mãos de um consultor, o qual o claudicante rapaz deveria esperar em uma das mesas ofertadas pela recepcionista.

Não se simpatizou com o consultor, e em dias de ebulição de emoções dificilmente se simpatizaria com alguém. Também lhe desagradou a comunicação mecânica daquele jovem que se mostrava um pouco tenso. Era uma manhã de um dia qualquer da semana e a academia estava cheia. Sim, realmente se tratava de um excelente local, freqüentado por gente endinheirada da cidade em busca de “resultados garantidos, ou o dinheiro de volta”. Para tanto, o preço a ser pago é bastante salgado.

À medida que o consultor mostrava a estrutura da academia, crescia em nosso candidato a aluno sincera preocupação quanto ao preço a pagar nas mensalidades. Declinou quando lhe foi perguntado se queria conhecer os vestiários. Foi objetivo na resposta e afirmou querer conhecer os planos de pagamento.

O jovem consultor, que é formado em nutrição, seguia à risca o script do atendimento com as táticas de vendas aprendidas em treinamento. Não, não era possível para o rapaz pagar o valor mínimo cobrado no débito automático, os trezentos reais ao mês. E de nada adiantou a oferta de desconto para que matrícula fosse feita agora.

Apressou-se em se despedir do consultor. Pegou sua mochila rasgada. Colocou-a às costas e saiu acompanhado de alguma frustração. Daqui a pouco, almoçaria solitariamente. Dentro da mochila, sua marmita com o par de alimentos. A lingüiça fora comprada em Minas. O arroz fora entregue na cesta básica que recebe todo mês.