AMORES ANUNCIADOS
Nunca acreditei nos amores prontos. Os amores premeditados ou anunciados. Os amores matemáticos. Aquela história de 1+1=2 nunca fez exatamente a minha cabeça. Pensar que fulano e cicrana, por serem bonitos, bem sucedidos e gostarem das mesmas coisas farão um par e tanto, sempre me pareceu uma hipocrisia aceita em consenso por aqueles que faziam dessas palavras uma esperança para suas vidas sem brilho.
Para falar a verdade, sem pretensão alguma, sempre fui mais tentado a acreditar na velha e bem aceita filosofia de que os opostos se atraem – e ainda assim sempre tive certa recalcitrância com ela, talvez por pensar que eu fosse um daqueles desesperados já citados que precisavam acreditar em alguma coisa.
Pois o tempo passou, e o destino, zombeteiro como sempre, ousou mais uma vez me pregar uma peça.
Em um dia qualquer, daqueles em que nada se espera, por um meio no qual tampouco acredito – a internet –, formosamente clareou-se à minha frente a imagem de alguém que certamente revolucionaria minha vida.
Pois bem, sabe todo aquele papo de que os amores anunciados não são verídicos? Sim, tive que olvidá-lo.
Foram muitos os comentários sobre aquela figura inquietante que não me saia da cabeça. Algo do tipo: “ela é muito parecida contigo”; “ela é estudiosa demais, tanto quanto você”; “ela é uma guria que tem um papo muito legal e uma cultura muito grande”; e, por último, o que mais me assustou: “vocês vão se acertar muito bem juntos!”
Por mais que eu não acreditasse muito nesses comentários prévios, baseados que foram em meras observações, ocorreu exatamente o previsto.
A voz encantadora, a cultura invejável, a conversa totalmente envolvente e, principalmente, o doce e inebriante beijo, foram apenas alguns dos atributos que demonstraram a nossa completa sintonia e fizeram transparecer que dali em diante a minha vida estaria mudada. Não precisou muito para que as projeções deveras se concretizassem... Enfim, tudo aquilo que antes se comentara, como um sincero e feliz prenúncio, fluentemente ocorreu.
Ainda que de tal forma tenha ocorrido, não tenho qualquer dúvida de que isso me fez muito bem. Como diz Martha Medeiros, o amor não é uma cura, mas sim um prêmio para quem relaxa. Se esse prêmio me é cabido, sinto sinceramente que devo estar na lista dos abençoados nessa passagem terrena, já que é difícil alguém nos encantar tão rapidamente, principalmente conjugando tudo aquilo que se vê por fora (a beleza) com o que se admira por dentro (o finíssimo caráter).
Se a vida lhe pregar uma peça e trouxer um amor que acabe com todas as suas convicções sobre isso, aproveite sem receio. Afinal, até o momento não se descobriu nenhuma fórmula pronta para a felicidade. Enquanto isso, desculpem-me os demais, mas o amor tem ocupado muito o meu tempo...