A PANTERA DE OLHOS DE ESTRELAS!

     "NÃO HÁ BEM QUE SEMPRE DURE, E NEM MAL QUE NÃO SE ACABE"!


             Da Paz já estava pressentindo que alguma coisa estranha estava acontecendo, afinal não se passa alguns anos pela vida impunemente, e sem que se aprenda a aprender detectar detalhes e indícios que fatalmente são indicadores de que; "alguma coisa não anda bem!"

            No entanto, sempre paira a dúvida entre confirmar a desconfiança ou continuar fingindo que não está percebendo que alguma coisa ou atitude mudou.

            Naquela noite ele decidiu que "era o tudo ou nada", já há alguns dias ela vinha evitando que ele fosse buscá-la no serviço, a desculpa era que o pai não largava do seu pé  pois estava desconfiado.
Mesmo sabendo que o pai trabalhava no mesmo local, Da Paz no fundo, bem no fundo, sabia que o motivo era outro. 


           E não deu outra! 
           
           Seus olhos injetados de raiva, dor, ódio, desespero, revolta,  e ciúme, pareciam querer saltar e sair rolando pelo asfalto feito bolinha de gude. Naquele instante ele viu o que jamais queria ter visto e constatou a existência do fantasma que o aterrorizava. Não havia mais dúvidas! A certeza era dura, cruel, devastadora, humilhante e incontestável.

             Ele se aproximou e a chamou pelo nome, era visível o constrangimento, o medo, e o susto, estampados naquele lindo rosto moreno.  Ela largou a mão do rapaz e se afastou dizendo:


            - Pode ir embora! Deixa que eu resolvo!
            
               Da Paz a segurou firmemente pelo braço. A Pantera de olhos de estrelas parecia mais uma gatinha acuada e amedrontada!    

           
          - Como você pode, depois de tantos anos ? (Era um Da Paz em pé de guerra que perguntava desolado!)


           - Vamos conversar, por favor!

           - Conversar o quê, pra que?

           - Eu ia te contar,  mas sabia que você ia ficar deste jeito!

           - De que jeito você queira que eu ficasse, batendo palmas e dando pulos de alegria com um chifre cravado no meio da testa?

          -
Olha eu não tive outro jeito, meu pai estava pegando demais no meu pé, me cobrando toda hora, dizendo que não era normal na minha idade estar sempre sozinha. Vivia dizendo que tinha alguma coisa errada, e que se eu estava saindo esses anos todos com alguém e nunca o levei em casa, é porque havia alguma coisa de muito errada mesmo! 

              -E se ele descobrisse alguma coisa tudo ia ficar pior!

             - Eu não podia dar este desgosto pros meus pais, como é que a minha mãe ia ficar se soubesse de tudo. Que você além de casado é mais velho do que ela e do que o meu pai? Meu pai e meus irmãos eram capazes de querer te matar de tanto ódio!(Da Paz não estava em condições de lembrar que eles eram verdadeiros armários de quase dois metros de altura!)

           - Pelo Amor de Deus! Entenda que eu não tinha alternativa, eu precisava mostrar pra eles que não tinha nada de errado comigo. Eles só acreditariam nisso se soubessem que eu estava com alguém, com um namorado que pudesse levar lá em casa!
          - Você já imaginou, Natal, Ano Novo, aniversário, feriado prolongado e eu dentro de casa, minha família toda me cobrando?

         - E aí, e o namorado, quando é que vai trazer pra gente conhecer? Ninguém acredita que uma mulher de vinte e sete anos, que tem um filho, não é feia, e nem sapatão, não namora, não transa!

           Da Paz no entanto,  não queria nem saber dos argumentos que ela   apresentava, muito embora ele soubesse que eles eram verdadeiros e irrefutáveis. Ele estava inconformado, afinal ninguém que leva um chifre ou um pé na bunda se conforma até cair na real!
        
         - Pode perguntar pra minha irmã! Minha vida está um verdadeiro inferno!(os olhos de estrelas brilhavam ainda mais banhados pelas lágrimas).

         - Foi meu pai quem me apresentou este rapaz que trabalha lá no setor dele, eu só fiquei com ele a partir da hora do almoço de hoje!

             Aquela frase teve em efeito indescritível, por um momento Da Paz chegou a ver aquela boca maravilhosa sendo beijada por outro homem, aquele corpo sendo acariciado, o sangue ferveu-lhe nas veias! Seu coração batia mais alto e forte do que a ala da bateria de uma escola de samba!

         Ela não quis entrar no carro, estava visivelmente amedrontada, literalmente aterrorizada, seus olhos lindos inundados. Da Paz concluiu que não adiantava insistir, afinal não havia mais nada a esclarecer, a realidade era dura e cristalina. O pranto também rolava nos seus olhos, olhou para Pantera de olhos de estrelas, mas a sua raiva era tanta que não o deixou perceber que ela estava profunda e sinceramente triste. Entrou no carro e saiu cantando os pneus como um rebelde sem causa!
 
           Dirigiu sem rumo por mais de uma hora, encostou o carro no meio fio e chorou, agora copiosamente!  Chegou em casa desolado, a esposa ainda abalada comentou o assunto do momento no mundo inteiro, a explosão das torres gêmeas no atentado terrorista!  
          
           Da Paz olhou as imagens na televisão, os aviões explodindo cravados  nos prédios feito um chifre na testa, a Pantera de olhos de estrelas de mãos dadas com outro, o fogo se espalhando, os olhos aterrorizados, sua cabeça desabando, as torres desmoronando, pessoas corendo assustadas, seus olhos injetados de sangue, ciúme e ódio, a tristeza torturando sua alma, o amor da sua vida entre os destroços da tragédia!




antonio carlos de paula
poeta e compositor
AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 09/04/2010
Reeditado em 22/08/2019
Código do texto: T2186776
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