Nordeste Ferido
O agreste de Pernambuco, onde há mais de 40 anos é encenada a Paixão de Cristo no maior teatro ao ar livre do mundo, com a presença de multidões vindas de todo o Brasil e do exterior, foi achincalhado por quem deveria enaltecê-lo, por ali estar representando um dos principais personagens da história cristã da humanidade. Esnobando-se ironicamente, por morar em bairro nobre do Rio de Janeiro, demonstrou a sua ojeriza pela região em que havia de ficar por aquele período em que se realiza o grande espetáculo. Disse que ali estava isolada do mundo, onde a comunicação ainda era feita na base “da fumaça e do tambor.” E, por ter sofrido uma lesão no olho, por ocasião de algumas filmagens ali no teatro, culpou uma “árvore seca há 5 mil anos”. Esqueceu que a própria entrevista era para uma afiliada da maior rede de televisão do Brasil, onde ela trabalha, por cujo motivo tornou-se “celebridade”.
Assim, apesar de estar “isolada do mundo”, a sua entrevista repercutiu em todo o país, no mesmo dia, causando repulsa a todos que valorizam a cultura, principalmente os nordestinos, que foram atingidos mais diretamente.
O espetáculo da Paixão de Cristo ali encenado anualmente já foi visto por mais de dois milhões de pessoas do Brasil e do mundo, segundo dados da STFN – Sociedade Teatral de Fazenda Nova – o que não teria sido possível se a comunicação ainda fosse à base “da fumaça e do tambor”, como ela insinuou. Morando no bairro da Tijuca, jamais poderia ignorar o avanço tecnológico das telecomunicações, assim como a internet disponível 24 horas por dia na Pousada da Paixão, onde ela estava hospedada. Não respeitou a grandiosidade do nosso Brasil, com a sua vasta extensão territorial, composta das diferentes regiões, cada uma com a suas características próprias. Com o seu tom irônico ao falar da região, parecia querer dizer que só o “seu” Rio de Janeiro fazia parte do Brasil. Chamou o nosso Nordeste de “isso” e não soube distinguir selva, sertão ou agreste. Se veio por um bom cachê, posso dizer, no meu linguajar nordestino, que ela “cuspiu no próprio prato”.