Porque escrevo.

Porque escrevo.

Por que escrevo? Escrevo talvez porque nas palavras encontro melhor companhia, ou então porque o papel é o ouvinte mais sensível, ou talvez, apenas, para preencher os vazios destas linhas, como faço agora. Dando a elas sentido. O que não quer dizer que todo vazio seja estéril de significado: o de Mallarmé, por exemplo, evoca sonhos e leituras inesperadas, o de Anish Kapoor , por sua vez, nos purifica os olhos para a beleza dos espaços dispostos de tal maneira que comportem nossa solidão.

Escrevo, acho, para exercitar esse certo complexo de criação e posse sobre a criatura. Assim escrevo porque não sou D-s e nem pai ainda. Engraçado que ao escrever toda palavra toma vida independente de mim logo que as faço saltar dos meus sonhos para o papel. Quem sabe essa ousada independência faça-se presente mesmo antes, quando elas como uma criança que questiona seus pais sobre a descobertas da vida, e ao escutar atentamente as parcas explicações, geralmente dispensadas às crianças, devolve aos pais uma compreensão das coisas que eles nunca dantes haviam sonhado.

Escrevo porque o fôlego de quem lê é maior do que o meu, se recitasse meus períodos maratonistas. Escrevo porque é divertido rir de si mesmo sem que isso pareça esquizofrênia(rs). E é divertido, mesmo que às vezes prefira escrever coisas tristes que me vão no peito do que falá-las a alguém e correr o risco de deseperar o pobre com minha melâncolia. Escrevo porque não sei conviver com minhas tragédias, porque quero me livrar delas,e das minhas faltas,e dos meus amores inconfessados, e das minhas exceções de homem ordinário,e dos sons que ressoam em minha mente e que me pertubam o sono, dos ritmos, das rimas e, enfim, da minha imensa incapacidade de ficar quieto!

Esrevo porque acho que somos o que pensamos, e se não escrevo esqueço, de pronto, o que pensei.(Estas linhas mesmo, não foi assim que as planejei, enquanto andava em busca-atropelo- de algo que riscasse e um papel). E quando os esqueço, é como se me perdesse de mim. Por vezes fico horas a catar resíduos de memórias não fixadas só pra ter o prazer de me reconhecer. Quando não as encontro, porém, fico tristemente pensando- mãos apoiadas no queixo e olhar longívago- no mundo de fora pelo vazio que me adentra. E quando os encontro pela metade, faço poemas concretos(rs)

Assim seguirei, sem alardes, escrevendo e respirando, escrevendo e respeirando, escrevendo...E enquanto não me assaltar o próximo pensamento: acabado, completo. Um pensamento que me dê a vaidade de reconhecê-lo como uma expresssão do que sou. Enquanto isto não acontecer, ficarei na suspensão do esperar outras novidades, contando os minutos para que essas palavras( minhas meninas) não tenham ninguém para as ouvir. Ansioso, de tanta esperança. E de saber assim: vou sendo e me fazendo ser de uma existência toda particular- pluriforme imagem que se molda a cada anteparo que a abriga. Sem saber que talvez isto tudo seja o cumprir de um destino. Esse centauro que eu sei existir mas não consigo acreditar. E que por entre caminhos irrevelados engendra a ilusão dos meus labirintos.

Danilo Sérgio Borges
Enviado por Danilo Sérgio Borges em 09/04/2010
Código do texto: T2186134