Barreira

Hoje eu fui muito má.

O frio com cheiro de canela... O gosto doce de chá de hortelã na boca... Um inverno tão doce e eu decidi ser má.

Não que eu tenha desejado. Infelizmente a barreira que você criou entre nós duas se fortificou com o tempo pela ausência de palavras, de abraços, de carinho. Ou talvez pelos incontáveis aniversários e outras datas que esqueceu.

Não foi escolha minha ter sido tão dura.

E hoje eu sei que você esperava um consolo meu... A noite estava tão fria. A notícia era tão triste. Mas a barreira era grande demais.

Eu sei o quanto desejou um abraço assim como desejei o seu, várias vezes, enquanto chorava sozinha e me perguntava por que a vida era tão dura, por que nossos invernos eram mais rigorosos dentro de casa e por que ali havia sempre tanta tempestade.

Mas eu resolvi ser má e não tentei quebrar essa muralha por que você mesma nunca tentou!

Então, infelizmente hoje, talvez eu não durma, ou talvez eu faça pirraça como fazia antes e te atormente mesmo distante. Criei gosto em ser uma pedra em seu sapato. A indomável criatura que nunca aceitou nada.

Mas talvez, e eu disse talvez, eu ainda consiga dormir e sonhar porque vou me consolar sabendo que você mesma buscou seu destino, você mesma se jogou do penhasco. E vou me consolar por ter tentado, apesar de tudo, te agarrar com toda a força do meu coração para que a pequena corda de juízo que ainda pendia e te segurava, não arrebentasse. Talvez eu consiga admitir que eu não fui tão má assim e irei fechar os olhos pensando que eu apenas fui uma aluna muito aplicada que aprendeu direitinho a lição de como ser durona.