NÃO LEIA
O sono não veio apesar de toda a preparação. Um bom banho morno, roupa fresquinha, lençois macios cheirando á lavanda, travesseiros de pluma... O cenário está pronto. Me jogo na cama na certeza de uma agradável noite de sono, mas, fazer o que se o ator principal não veio. Pouco importou a produção, o sono não veio. E, sem o ator principal, nada mais havia a fazer.
Sem sono, lá vem aquele monte de pensamentos inadequados para uma noite até sem lua. São pensamentos que povoam nosso inconsciente, ora doces, ora pecaminosos.
Bem, o que me resta...escrever...meu vício é voce. Mas, exatamente sobre o que? Geralmente as idéias me vêm á cabeça aos borbotões, muitas vezes completamente embaralhadas, e, nas horas mais absurdas. Cabe-me seleciona-las, organiza-las, tentar encontrar alguma que valha á pena. Pensa aí...Vou ao banheiro fazer uma necessidade fisiológica, e, o que me vem á cabeça? Um verso...juro. Às vezes, até um poema de amor. Mas, pensando bem, isso lá são horas de pensar nisso? Melhor seria me concentrar no feito e logo encerrar o assunto. Mas, as palavras continuam a escorrer de minha alma e a me cobrir, pedindo insistentemente que sejam salvas no papel. O mais próximo, em rolo, serve na falta de outro. E, lá vem o verso no papel duplo, macio...Mas, vejamos, não é sempre que tal inspiração me visita. Melhor aproveitar ou ela vai embora, quem sabe, para nunca mais voltar. Já pensou que loucura, eu seca, sem letras? Deus me livre.
Mas, o silencio da noite, a brisa marinha a lamber meu rosto, é um convite irrecusável para manchar esse papel com essas letrinhas...Obedeço. Imperioso escrever. E, é o que faço. Quase freneticamente, sem pensar, de maneira maquinal, vou escrevendo, escrevendo, sem nem ao menos ler o que sai. As palavras saem qual vômitos que me sufocassem. O escrever torna-se uma necessidade fisiológica que precisa ser atendida, obedecida. Não há como fugir ao apelo, e, obedeço. Certamente o que estou escrevendo, ningúem lerá, mas, terá cumprido sua missão, desafogar minha cabeça abarrotada de letrinhas.
Mil assuntos me vêm á cabeça, mas não é preciso. Amanhã, certamente acordarei, o sol estará brilhando e virei novamente escrever, e, talvez seja um poema, desses bem melosos, bem ao meu estilo de poeta romântica fora de hora, de tempo e espaço, ou um poema tenebroso, fantasmagórico, falando de traição, abandono, solidão...tudo vale, quando vira poema.
Mas, a vida é assim mesmo...um dia luz, outro, treva, um dia, riso, outro pranto. Espero que amanhã eu escreva algo digno de ser lido, alguma coisa que preste, porque hoje, siceramente, não leia. E, se voce chegou até aquí, certamente não tinha nada melhor a fazer. Mesmo assim, obrigada pela leitura. Prometo recompensá-lo, escrevendo melhor, afinal sou apenas uma aprendiz.
Boa noite.