Esse frio cafajeste!
Até que enfim, o calor se foi, deixando para traz todo um guarda-roupa a lavar, embalar e guardar até seu inevitável retorno, no próximo ano. Até lá, que venham as mantas – de pescoço e de sofá – as botas, as lareiras, os vinhos, os fondues – de queijo ou chocolate – e toda a indumentária e gastronomia que tão bem acompanham as estações mais frias.
O outono chegou numa pontualidade surpreendente e fora do comum, parecendo afobado e com cara de inverno. Surpreendente, mas não desagradável: as erroneamente chamadas “meias estações” costumam ser agradáveis, porém monótonas. Erroneamente chamadas, pois não duram a metade das outras, são estações inteiras. O tal “meia” se refere às temperaturas medianas que elas costumam apresentar, nem muito altas, nem muito baixas, medíocres. Ao contrário das outras, inverno e verão, tão extremistas, com suas temperaturas marginais (aquelas que ficam afastadas do centro, da média; às margens).
Pensando em medíocre X marginal, podemos comparar as temperaturas aos tipos de homens: mocinhos X bandidos, ou em outras palavras, bonzinhos X cafajestes. O primeiro é aquele previsível, comportado, que raramente irá surpreender – em qualquer sentido – enquanto o segundo traz sempre fortes emoções, não necessariamente boas, mas certamente marcantes.
Fazendo uso de um dito antigo e pra lá de preconceituoso, se os homens se divertem com as loiras, mas casam com as morenas, as mulheres, por sua vez, se divertem com os canalhas, mas casam com os mocinhos, certo? Certo, se você ainda vive estagnado em algum lugar do passado. Agradecemos à liberdade sexual conquistada e ao preconceito cada vez mais diluído, por hoje podermos escolher livremente a cor do cabelo, da bandeira e comportamento sexual que desejamos exibir, sem carregar tantos rótulos por isso. E poder fazer dos mocinhos bom canalhas ou vice-versa, quando pede a ocasião, criando assim o parceiro ideal para a mulher moderna!
As estações também podem nos surpreender – como um outono que tenta se passar por inverno. Algo compreensível, afinal, existe estação mais sexy que o inverno? O verão pode até trazer um melhor eslogan “gente bronzeada, corpos suados e poucas roupas”, mas uma vez rasgada a embalagem, o produto que se encontra está mais para “Oh meu deus, acabe logo com esse inferno para que eu possa vestir um jeans sem sufocar, andar ao sol sem torrar e encostar meu corpo em outro sem suor, pois se eu pensar novamente em suar corro o risco de desidratar!”.
O inverno faz o possível para nos manter em casa, amontoados, comendo e bebendo bem, sempre que possível. Nos torna elegantes em seus acessórios e ao manter os corpos cobertos, mantém cobertos também os segredos, alimentando assim a imaginação até o momento de acender... As velas, a lareira, o forno e aquecer... A casa, os corpos, a noite.
É claro que nariz vermelho, espirros e coriza não são elementos que reforcem o argumento aqui apresentado, mas como foi dito antes, o frio é um cafajeste! E para lidar com ele é preciso alguma precaução. Agora, pensando em todos os prazeres que ele pode oferecer, uma vacininha cairia bem, não? Uma vez munida desta ferramenta, considere-se preparada para dizer alegremente: “Que venha logo esse frio cafajeste!”