TEMPOS MODERNOS
A educação de hoje tem suas particularidades. Algumas sobremaneira interessantes. Assim aconteceu com Pedro Henrique, filho mais velho de minha prima.
Segundo o costume da família, nenhuma nova informação ou ensinamento seria passado às crianças, através de meias verdades, observando-se, entretanto, a faixa etária de cada criança para não causar traumas ou problemas psicológicos.
Pedro Henrique, entretanto, apesar da pouca idade, não aceitou muito bem a estória da cegonha que ouvira certa vez e, quando a mãe engravidou do segundo filho, completara três anos, ficou bastante curioso, sobre o que acontecia.
Roberto, pai do pequeno, depois de conversar com a esposa, resolveu que falaria ao filho sobre como nascem as crianças, de maneira real, leve, e mais clara quanto possível.
E foi nesse instante, que uma ideia brilhante lhe ocorreu. A cabra da fazenda estava por parir e seria interessante levar o menino ao local para que o mesmo presenciasse a tudo.
Levada a novidade a Pedro, este ficou encantado com a ideia de ir ao campo no dia seguinte, motivo pelo qual dormira mal naquela noite, fato naturalmente compreensível.
Pela manhã, o menino vestiu-se a caráter, calçou botinas, enfiou um chapéu de palha na cabeça e se sentou na carroceria fechada da camioneta, que o levaria ao local da grande revelação, pois, como informara o caseiro ao pai da criança, deveria acontecer no final da semana.
Enquanto esperavam que o animal “entrasse em trabalho de parto”, o pai dentro do possível, informava ao garoto sobre a aproximação de um casal, o namoro, a amor que une pessoas e sobre a sementinha implantada no ser do sexo feminino, para de depois, exemplificar o restante da informação, com a cena real.
Pedro Henrique dividia a atenção entre o pai que explicava e o animalzinho que permanecia no chão, a poucos passos de distância.
Roberto, o pai, entrou a dizer que o cabritinho, filhote, deveria surgir em poucos minutos, conheceria a mãe e ao lado dela viveria até que conseguisse sobreviver sozinho e que as crianças também passam por um processo semelhante.
Quando o filhote começou a apontar, o menino pulava e gritava, batendo palmas, como a saudar a vida, entre feliz e curioso.
Instantes depois, agachou bem perto do nascituro, fitando admirado aquele filhote sujo e molhado.
A cabra, sem se importar com os que a olhavam, lambia a cria calmamente, sob os olhos embevecidos de Pedro Henrique. De repente, porém, olhou para o pai e perguntou:
- Papai, todo mundo nasce assim?
- Claro que sim! – respondeu o pai – foi isso que eu quis lhe ensinar...
O menino, com os olhos arregalados, indagou:
- Então, quem é que foi que me lambeu?
Entre risadas, nada foi possível responder naquele momento.