Parte da fama
Um conhecido ditado, usado por formais e coloquiais já há algumas luas, diz que quem muito abaixa mostra a bunda. É incontestável o jargão, visto que, nestes tempos de calças baixas, nem é preciso abaixar muito para que a famosa vala da divisão tentadora apareça sem demais cerimônias. É a moda, que nos faz escravos aceitos para a interação com o meio, esta que por conveniência vem mostrando a quem tem alguns reais para comprar uma revista os guardados dos famosos ou daqueles que se atrevem à fama.
Se as partes da desconhecida fulaninha são atrativas, imagine de quem teve um filho com um senador da República que usou laranjas, dando bananas para a Constituição, ou alguém que ganhou na mega-sena ou que plantou bananeira na praça pública. Ou, ainda, aquela atriz que aparece como gente da família todos os dias naquele mesmo horário na telinha, ensinando a acordar tarde, não trabalhar e fazer compras o tempo todo, sem explicar a origem do enriquecimento.
E a insinuante caça-níquel dos BBBs, como a cantora de baile funk que tenta compensar com os rebolados o que a voz não contemplou. E assim vai sendo parte da cultura. A estrela deve ser minuciosamente conhecida, até o piercing que só se vê depois de muitas acrobacias, como o exemplo de Karina Bacch. O voyerismo se completa com a escopofilia sem limites de idades para mostrar que a cultura do primitivismo do homem está cada hora mais presente nos dias de computadores e celulares.
A nudez libertária se rebela no meio das roupas e quer de volta o que o folclore do pecado tirou, as imposições catequistas e os demais falsos pudores. A cada instante, uma nova face mostra o riso, mostra os pelos ou as depilações e as tetas siliconizadas. Por força da sequiosa vontade voyerista, cada vez se paga mais para fotografar a nudez com exclusividade, inclusive a masculina, que adquire novos adeptos.
Penso que, ao baixar o volume da gritaria que foi a crueldade com a pequena Isabella Nardoni, a vitória da justiça, ainda que seja tão irrisória a condenação, a jovem e bonita Ana Carolina, genitora padecente, será a próxima clicada. Pode parecer maldade deste profeta de boteco, mas muitos olhos já cozinham aquele corpo que aparece sempre de calça jeans rimando com a camiseta branca, estampada com a foto da criança.
Não duvides de que será mais uma revista campeã em vendagens, como uma Priscilla ou Melancia. Diversos fãs vão se unir extravagando a libido e postando as emoções em forma de assédio. A indústria do capitalismo ganhará um tanto mais, pois, vitalmente, necessita disto, de acontecimentos que causam transformações sociais e ajudam a alimentar as excentricidades do povo que não se farta de pão e circo.
Ainda na pior das hipóteses da lei, se um tal hábeas corpus livrar a assassina Jatobá, talvez seu corpo misterioso também possa estar fazendo os olhos fanáticos e pervertidos se encherem de ódio e tesão. Suas mãos em posição de esganar serão mostradas em escorço como as telas Goya. E muitos exemplares vão vender, como os CDs que faziam apologia ao crime, para, no momento de total intimidade entre o leitor e a revista, pode ser que ela seja perdoada pelo solitário prazer que é o objetivo das produções.
Adiante aos meios que são objetivos desta efêmera fama, existem outros caminhos que hoje são as realidades de muitos, de mostrar e ganhar algumas centenas de reais, pode se aquecer ainda mais a libido dos fãs e dobrar este ganho, daí aparecem os filmes dizendo não serem pornográficos para não desrespeitarem as mulheres e homens que atuaram na televisão aberta, eufemizam como produções de amor caliente e já vendem mais que a bíblia e todos os outros intrumentos de simonia. Só ainda não se sabe se já faturaram o montante da Fogueira Santa de Israel ou o que os Ladrões da Renascer escondiam nas intimidades.