O caminho da escola
A segunda-feira nunca me pareceu interessante ou rica de emoções. Lembro de que em minhas fantasias na época escolar eu sempre querer fugir de casa nesses dias da semana. Ah, tempinho bom! Era só fechar os olhos e me imaginar num castelo ou num campo de flores que eu esquecia momentaneamente dos dissabores da segunda-feira; ela ficava tão longe da sexta-feira!... Este era meu dia quase favorito; pois no dia seguinte seria sábado!... Ocasião em que ficava em meu esconderijo secreto tecendo sonhos... brincando com minhas bonecas de pano!
Mas o que fazer, se o chefe nos dar uma ordem de ir conhecer mais profundamente algumas escolas no interior do Piauí? Trabalho é trabalho e deve ser feito com carinho; mesmo que seja assim com um sorriso meio amarelo!
Compenetrada, entrei no velho ônibus escolar seguida por uma professora da localidade Capim Fino e um agente de disciplina da escola Doca Ribeiro onde trabalho.
De dentro do veículo, os caminhos me pareceram bem transitáveis. Meus olhos estavam entregues ao balanço dos tucunzais no vaivém do vento da tarde de abril. Andorinhas corriam no ar tais meninos na hora do recreio. Elas travavam uma espécie de disputa por um lugar no céu azul que me lembrou o filho de Dona Jesus! O menino tem seis anos e corre na escola como se estivesse numa pista de autorama! Uma pena que o vento ganhe dele!...
Motivada pelas maravilhas da mata, digo isso pensando nas flores silvestres e até já decidi plantá-las num jarro na minha casa, não dei muita atenção à fala da professora Maria do Carmo. Felizmente esta é conhecedora de meus devaneios em ocasiões de passeios pelo verde do interior que teve uma paciência de educadora e me trouxe para a conversa com um sorriso.
“Quando os meninos vêm da escola após uma chuva forte, diretora, esse riacho aqui fica tão cheio que transborda no pontilhão. E sabe como os alunos atravessam-no? O pai do Francisco amarra uma pedra na ponta de uma grande corda e segurando na outra extremidade arremessa-a para que os meninos peguem do outro lado do riacho a ponta da corda e assim ele possa puxá-los.”, ela me narrava o fato com os olhos tão plenos de orgulho pela ação do pai das crianças que eu me arrepiei. Esse foi um dos momentos em que eu mais vi de perto o caminho da escola.
Numa situação como essa, que mulher não encheria os olhos de água? Creio que todo cidadão que valoriza a escola se emocionaria diante de uma história ilustrada de compromisso com o futuro; tanto da parte do pai dos meninos como destes.
Este é um dos tantos casos de exemplos belos de serem seguidos na vida. E quem conhece essas crianças fica seduzida por suas vivências e passa a gostar até de segundas-feiras também. Ora, eu estou toda contente aqui olhando meus pés de bogaris que um dos alunos do Capim Fino me deu naquele dia.