A culinária da adversidade
Noites atrás, quando já passava das vinte e três horas, eu senti uma baita fome. Obviamente, o supermercado, próximo da minha residência já estava fechado. Não havia sequer uma barraca lanches pela vizinhança. O dinheiro que tínhamos em casa não era suficiente para pedir uma pizza ou coisa parecida pelo telefone. Sair de casa para pegar dinheiro em um caixa eletrônico ou em busca de um lanche mais barato não era seguro.
Voltando a uma nova e instintiva pesquisa na geladeira, constatei o que já sabia da sondagem preliminar. Não encontrei nada além de legumes e um vasilhame de arroz que sobrara do almoço. Desolado, verifiquei o freezer e lá jazia uma enorme bandeja de isopor com um punhado de bifes de alcatra congelados, duros como uma pedra.
Com quase vinte e cinco anos de casamento com exímia cozinheira; e mas que isso, uma culinarista de alto gabarito, portanto, conhecedora de mais profundos conhecimentos culinários, os anos de convivência me deram algum traquejo no fogão. Isso me dava uma certa independência, o que me levava a ousar em algumas aventuras culinárias.
Pois é, a fome aumentava e, além disso eu não estava sozinho naquela agrura. Éramos cinco. Sabe aquela situação que ninguém reclama, ninguém fala nada, mas na sua quietude espera que alguém faça alguma coisa? Pois dizem que o sono alimenta, mas se a gente não se alimenta não consegue dormir. Foi então que eu tomei a decisão:
- Vamos comer bife!
Pequei um grande frigideirão que temos em casa. Derramei umas duas colheres de óleo, a mesma quantidade de margarina e deitei a enorme placa de bife de alcatra empedrado de gelo. Cortei três cebolas em pedaços bem grandes e tampei. Depois de uns dez minutos mais ou menos, virei a placa na frigideira e deixei passar mais dez minutos. Acrescentei tomate e pimentão cortado em pedaços grandes e um pouco de tempero completo. No fim desse tempo, eu comecei a soltar os bifes devagar e virando-os, de vez em quando. À medida que iam descongelando, iam pegando tempero e um cheirinho de churrasco já exalava pela casa, alvoraçando nossos estômagos, suscitando a nossa ansiedade por devorá-lo. Acrescentei molho de tomate pronto e aguardei só mais um pouco até apurar mais sabor. Ao fim de mais ou menos meia hora, estava pronto um belo frigideirão de bife de alcatra, muito macio e gostoso como verdadeiro filé, que foi servido com arroz e uma deliciosa farofa com lingüiça que não eu me furtei em preparar.
Dormimos regalados naquela noite, que se tornou inesquecível. Fizemos uma festa e tanto. A a sensação era de que havíamos feito o impossível acontecer. Desde então, nunca mais adiamos saciar a nossa fome por conta de um pedaço de carne congelada.
Noites atrás, quando já passava das vinte e três horas, eu senti uma baita fome. Obviamente, o supermercado, próximo da minha residência já estava fechado. Não havia sequer uma barraca lanches pela vizinhança. O dinheiro que tínhamos em casa não era suficiente para pedir uma pizza ou coisa parecida pelo telefone. Sair de casa para pegar dinheiro em um caixa eletrônico ou em busca de um lanche mais barato não era seguro.
Voltando a uma nova e instintiva pesquisa na geladeira, constatei o que já sabia da sondagem preliminar. Não encontrei nada além de legumes e um vasilhame de arroz que sobrara do almoço. Desolado, verifiquei o freezer e lá jazia uma enorme bandeja de isopor com um punhado de bifes de alcatra congelados, duros como uma pedra.
Com quase vinte e cinco anos de casamento com exímia cozinheira; e mas que isso, uma culinarista de alto gabarito, portanto, conhecedora de mais profundos conhecimentos culinários, os anos de convivência me deram algum traquejo no fogão. Isso me dava uma certa independência, o que me levava a ousar em algumas aventuras culinárias.
Pois é, a fome aumentava e, além disso eu não estava sozinho naquela agrura. Éramos cinco. Sabe aquela situação que ninguém reclama, ninguém fala nada, mas na sua quietude espera que alguém faça alguma coisa? Pois dizem que o sono alimenta, mas se a gente não se alimenta não consegue dormir. Foi então que eu tomei a decisão:
- Vamos comer bife!
Pequei um grande frigideirão que temos em casa. Derramei umas duas colheres de óleo, a mesma quantidade de margarina e deitei a enorme placa de bife de alcatra empedrado de gelo. Cortei três cebolas em pedaços bem grandes e tampei. Depois de uns dez minutos mais ou menos, virei a placa na frigideira e deixei passar mais dez minutos. Acrescentei tomate e pimentão cortado em pedaços grandes e um pouco de tempero completo. No fim desse tempo, eu comecei a soltar os bifes devagar e virando-os, de vez em quando. À medida que iam descongelando, iam pegando tempero e um cheirinho de churrasco já exalava pela casa, alvoraçando nossos estômagos, suscitando a nossa ansiedade por devorá-lo. Acrescentei molho de tomate pronto e aguardei só mais um pouco até apurar mais sabor. Ao fim de mais ou menos meia hora, estava pronto um belo frigideirão de bife de alcatra, muito macio e gostoso como verdadeiro filé, que foi servido com arroz e uma deliciosa farofa com lingüiça que não eu me furtei em preparar.
Dormimos regalados naquela noite, que se tornou inesquecível. Fizemos uma festa e tanto. A a sensação era de que havíamos feito o impossível acontecer. Desde então, nunca mais adiamos saciar a nossa fome por conta de um pedaço de carne congelada.