FIDELIDADE MASCULINA

- Rapaz! Enlouqueci por essa mulher; basta ela passar e o meu coração acelera, o diabo é que sou casado. Casado, e agora o que que eu faço?

O interesse de Marcelino por Jezebel era notório. Não conseguia esconder. Podia até tentar, mas nada, nada tirava Jezebel do pensamento de Marcelino. Havia da parte dela um pequeno interesse, nada tão intenso, tão profundo quanto à paixão de Marcelino. Mas havia.

Na caminhada que fazia todos os dias com seu amigo-vizinho, já quase sem fôlego, passou a língua nos lábios suados e completou:

- Se não fosse a Inês... Te confesso...me jogaria pra cima dela...ah! Jezebel, Jezebel... Te juro, se não fosse a Inês...

- Marcelino, o homem é bígamo por força maior. Se essa mulher ai que você tanto fala quisesse; não ia ter Inês que te segurasse.

- Não com Inês. Essa mulher não é mole não, e outra, eu nunca trai e não será agora que trairei.

E Jorge muito menos cansado que Marcelino foi categórico:

-Isso não demora. Mais dia menos dia vai acontecer. Se for assim como você diz, vai acontecer. Escreve, vai acontecer.

Inês, justiça lhe seja feita: era um doce. Não se podia esperar mais de uma mulher. Inês era perfeita até na fala mansa que tinha. Tinha hábitos higiênicos imaculados. Pertinho da hora de Marcelino chegar, corria até o banheiro e gargarejava um líquido verde, caseiro, feito à base de hortelã. Quando Marcelino abria a porta, sempre, sempre recebia um beijo caloroso, desses de cinema, e de hortelã. Nas reuniões dominicais era a anfitriã perfeita. Enfim. Era uma mulher perfeita.

Quando Marcelino se encantou por Jezebel, Inês percebeu que o marido tinha nos olhos um brilho diferente. E então o advertiu numa calma quase santa:

- Sabe qual é a pior coisa de uma pessoa calma?

- Não, qual é.

- É não saber do que seria capaz se talvez perdesse a calma.

- O que você está querendo dizer com isso Inês?

Inês não disse mais nada, mas sabia do efeito que causou naquela conversa. E pela primeira vez Marcelino teve medo da mulher.

Marcelino por sua vez também era bom marido, o chamado gentleman. Inês não podia se queixar, mas como toda mulher, tinha um sexto sentido mais que aguçado em questões de traição por exemplo.

Passado algum tempo da tal conversa ameaçadora as coisas voltaram ao normal, mas aconteceu uma coincidência hedionda:

- Amor, esqueci de te avisar, marquei com uma amiga de faculdade para estudarmos hj aqui em casa, você se incomoda?

- Claro que não meu bem, eu a conheço?

- Eu acho que não, mas ela já está para chegar.

A campanhinha toca e Marcelino abre a porta e a surpresa é mortal:

- Jezebel?

A ironia do sorriso que ela deu foi esmagadora.

- Oi Marcelino. Você mora aqui.

Gaguejou e respondeu:

- Sim, sim, moro.

Do quarto a mulher grita:

- Amor a Jezebel já chegou? Peça para ela entrar que eu já saio, estou me vestindo.

Marcelino não conseguia esconder seu apavoramento, até que Inês percebeu seu fascínio pela colega. Quando Jezebel foi a embora houve a retórica.

- Sei quem ela é e por isso a trouxe aqui. Sei que você gosta dela, sei que ela trabalha com você, mas olha aqui, se eu souber que você sequer apertou a mão dessa mulher, o chumbo trocado será de canhão. Não houve réplica.

No dia seguinte Marcelino chega aflito ao trabalho e dispara:

- Olha Jezebel amo minha mulher e não a trairei jamais, nem com uma linda mulher assim como você, pedirei minha demissão e não mais trabalharei aqui, um homem não se pode dar ao luxa da tentação. Vou para minha casa e amarei minha mulher e somente ela, para todo o sempre.

Abriu a porta do apartamento para fazer uma surpresa, pedir desculpas e se declarou amorosamente. Chamou-a pelo apelido duas ou três vezes antes de abrir a porta do quarto:

- Zinha, Inêszinha, cheguei meu anjo, desculpe, é você quem amo, eu me demiti, pra não cair em tentação. Onde está você amor. – Abriu a porta do quarto e pegou Jorge vestindo a calça e Inês ainda na cama, nua. E não pode conter um choro atroz.

Renann Calazans
Enviado por Renann Calazans em 06/04/2010
Reeditado em 28/02/2012
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