ESTRANHAS BRISAS

Os ventos sopram sempre na direção do infinito em busca de algo inexplicável, decerto, e vão deixando em seu caminho rastros de poeira, fragmentos de ilusão, sentimentos esquecidos, reflexões atordoadas. Eles espalham as folhas e derrubam frutos maduros quando moderados, porém balançam as árvores, derrubam telhados e provocam o caos se vem com brutal intensidade capaz de promover desastres e destruições.

Os ventos soam cavernosos por entre as frestas das janelas, invadem as brechas minúsculas e adentram horizontes inesperados. São como aplausos estrondosos ecoando pelas esquinas, dobrando ruas, consumindo a poeira, trazendo e levando mensagens de vida e morte. São os mensageiros do desconhecido e brotam de súbito, surgem como, por vezes, ervas daninhas minando os instantes e abrindo fendas em rochas após séculos de constantes e pacientes choques intermináveis.

Parecem, esses estranhos ventos, pássaros enlouquecidos ferindo o espaço com suas asas de aço em movimento, ou furiosos guerreiros bárbaros disparando potentes zarabatanas de onde surgem perigosas setas pontiagudas que penetram e rasgam até atingir o mais íntimo dos recônditos. Se bem recordem aves no céu, nem sempre eles cantam melodias maviosas ou emitem trinados e gorgeios fascinantes, antes deixam escapar gritos medonhos e assustadores e estes vão ecoando ravinas, estradas e cidades afora como se cães ladrassem ininterruptamente. À guisa do cálido sopro da morte.

Sendo como enternecedora e suave brisa acariciando nossos cabelos, que se revolvem em lentos movimentos ao seu sabor, esses ventos se tornam delicados e carinhosos momentos de ternura indizível. Perpassam pelo corpo, afagam, exprimem cândida doçura e provocam deliciosas cócegas nas pálpebras de quem os recebe para abraços duradouros. Desse modo racional e bem vindo, nos levam a pensar em vozes cristalinas como água de puros mananciais entoando dó-ré-mís para a composição de músicas imorredouras, translúcidas. Por esse ângulo originários, não são repentinos nem apavorantes, não explodem em nossos rostos feito petardos que ferem, apenas roçam de leve a modo de plumas embevecentes e nos fazem sorrir de prazer ante esse contato aveludado. Esses são os ventos da boa sorte, do bem querer, dos desejos inconfessáveis, dos amores perenes.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 06/04/2010
Código do texto: T2179889
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