FUMO E CINZAS
Fumar a vida em tragadas vigorosas, fumar sem filtro, rasgando as entranhas com fumaça densa e corrosiva. Um ir em frente enquanto as rodas aguentam, os freios permitem desviando com jogo de cintura de trombar em cheio em finais trágicos e fatais.
Assim era a vida de Leonel que passara dos vinte anos tendo vivido alguns altos e muitos baixos, entre rachas com os amigos, noitadas de todos os vícios, precipícios escalados na marginalidade desde que chegara aos catorze anos. Conhecera muito cedo os meandros destes labirintos subterrâneos aonde navegam a escória e nenhuma esperança. Nascido do descaso e da miséria, sua mãe caíra no mundo deixando os filhos entregues à caridade ocasional de uma irmã e de uma madrinha. Leonel ficou com a segunda e muito cedo conheceu o mundo pelo seu pior aspecto. Sua vida transcorreu como um sem fim de dormir e acordar acelerados, e o retorno de sonos inquietos abrindo os olhos e tendo que começar sempre de um zero fundo demais, pesado demais. Transitando entre delitos e casas de menores infratores, passou para a fase adulta neste itinerário agressivo à sociedade com a qual não tinha nenhuma familiaridade, a não ser de sofrimentos e abandono. Despertara seguidamente da perdição de noites sem fim de correrias, violência e dentro do peito somente aquele vazio, nenhuma calorosa lembrança acolhedora. Ocorriam também muitas vezes em que ao acordar precisava de uns goles, pra não morrer na praia, pra renascer de umas cinzas aterradoras. O tempo nos ilude e pensamos que ele se movimenta pra frente, então é sempre um começar e terminar, um pé se estendendo pra frente e pisando no chão, movimento? Uma tragada depois da outra, passo a passo, nossa vida é um grande movimento ilusório. E as histórias desses homens comprovam somente que todos tiveram infâncias de uma enorme carência afetiva e material. E que a sociedade tacitamente reserva a prisão para retirar das ruas aqueles que resultam desse enorme e interminável caos sobre o qual se estrutram e sobrevivem os mais afortunados. Uma seleção feita pragmaticamente e revelada por fria estatística. Foi assim que aos vinte e quatro anos, tendo saído da prisão, falou à tia, irmã de sua mãe, que ia fazer uma grande festa de aniversário, que nunca tinha tido uma na sua vida inteira. Não deu tempo. Numa mesa de sinuca, quatro tiros e cumpria-se aquela vida no esplendor dos seus vinte e cinco anos quase completos.
Fumar a vida em tragadas vigorosas, fumar sem filtro, rasgando as entranhas com fumaça densa e corrosiva. Um ir em frente enquanto as rodas aguentam, os freios permitem desviando com jogo de cintura de trombar em cheio em finais trágicos e fatais.
Assim era a vida de Leonel que passara dos vinte anos tendo vivido alguns altos e muitos baixos, entre rachas com os amigos, noitadas de todos os vícios, precipícios escalados na marginalidade desde que chegara aos catorze anos. Conhecera muito cedo os meandros destes labirintos subterrâneos aonde navegam a escória e nenhuma esperança. Nascido do descaso e da miséria, sua mãe caíra no mundo deixando os filhos entregues à caridade ocasional de uma irmã e de uma madrinha. Leonel ficou com a segunda e muito cedo conheceu o mundo pelo seu pior aspecto. Sua vida transcorreu como um sem fim de dormir e acordar acelerados, e o retorno de sonos inquietos abrindo os olhos e tendo que começar sempre de um zero fundo demais, pesado demais. Transitando entre delitos e casas de menores infratores, passou para a fase adulta neste itinerário agressivo à sociedade com a qual não tinha nenhuma familiaridade, a não ser de sofrimentos e abandono. Despertara seguidamente da perdição de noites sem fim de correrias, violência e dentro do peito somente aquele vazio, nenhuma calorosa lembrança acolhedora. Ocorriam também muitas vezes em que ao acordar precisava de uns goles, pra não morrer na praia, pra renascer de umas cinzas aterradoras. O tempo nos ilude e pensamos que ele se movimenta pra frente, então é sempre um começar e terminar, um pé se estendendo pra frente e pisando no chão, movimento? Uma tragada depois da outra, passo a passo, nossa vida é um grande movimento ilusório. E as histórias desses homens comprovam somente que todos tiveram infâncias de uma enorme carência afetiva e material. E que a sociedade tacitamente reserva a prisão para retirar das ruas aqueles que resultam desse enorme e interminável caos sobre o qual se estrutram e sobrevivem os mais afortunados. Uma seleção feita pragmaticamente e revelada por fria estatística. Foi assim que aos vinte e quatro anos, tendo saído da prisão, falou à tia, irmã de sua mãe, que ia fazer uma grande festa de aniversário, que nunca tinha tido uma na sua vida inteira. Não deu tempo. Numa mesa de sinuca, quatro tiros e cumpria-se aquela vida no esplendor dos seus vinte e cinco anos quase completos.