Turismo no hospital: você já foi?
331 – ESTUPIDEZ – Vamos rasgar o verbo e deixar de pormenores; esta história de acidente de trânsito em Minas Gerais já passou dos limites; a estupidez humana chega a tal ponto que eu começo a duvidar da condição de único animal racional. A pessoa quando assume a direção de um veículo se comporta na maioria dos casos como um cão raivoso, colérico por algo que ninguém mais tem culpa, muito menos pode explicar.
Nem a psiquiatria, espiritismo, quiromancia ou o Padre Quevedo consegue discernir a cabeça do indivíduo que passa meses se preparando em aulas burlescas de direção, pagando altas taxas para conseguir um pedacinho de papel inútil que não lhe garante nenhuma habilidade de direção, para depois pagar um preço mais do que alto por um veículo e se comportar numa rodovia ou rua de cidade como se nada daquilo um dia tivesse existido.
O sujeito imbecil, quadrúpede irracional, acredita que uma simples licença (que é revogável de direito) lhe faça um ás da direção e que seu carro é tão blindado que jamais lhe provoque um único arranhão, caso tenha a má sorte de envolver-se num acidente; motoristas de caminhões e ônibus que se valem da força bruta e da lei do mais forte cometem verdadeiras aberrações em todos os sentidos possíveis e impossíveis e na maioria dos casos de acidente, são eles os culpados por mortes, ferimentos e mutilações, que poderiam claramente ser evitadas com um simples gesto de “resignação”.
Neste final de semana em Minas Gerais 27 pessoas perderam a vida nas estradas mineiras controladas pela Polícia Rodoviária Federal, ou seja; muito mais pessoas morreram nas estradas mineiras; outras tantas, não foram postas no rol dos acidentes de trânsito, isso porque, salvo maior juízo, as estatísticas não computam os casos em que houve internação e que chegaram a óbito após o socorro. Segundo informações do MJ/PRF este feriadão de “solenidade” da morte de Cristo, fez com que praticamente o dobro de pessoas chegasse mais cedo para perto do homenageado.
Eu presumo que após eu ter adquirido a minha CNH, fazendo um calculo baixo, devo ter dirigido em pelo menos 20 dos 27 Estados brasileiros; devo ter percorrido pelo menos as piores estradas brasileiras, a exemplo da versão antiga da Regis Bittencourt antes de ser duplicada; devo ter ido pelo menos umas dez vezes de carro para o Espírito Santo pela BR-381 e já dirigi em três Continentes por vários países. Eu que já dirigi em países absurdamente atrasados como o México, Paraguai e Marrocos, mas em nenhum destes, eu jamais vi tanta aberração quanto nas estradas brasileiras, principalmente no Pará e em Minas Gerais.
A imprudência e a total falta de conhecimento básico de dirigibilidade de automóveis, associado a fatores como o consumo de álcool e até a falta de fiscalização mais rígida acabam provocando dezenas, milhares de vítimas pelo enorme Brasil. São pessoas truculentas e ignorantes que agem de forma dolosa, que cometem suicídio e que também acabam levando consigo outras centenas de inocentes; muitas vezes, pessoas que simplesmente estão trafegando por alguma rodovia ou logradouro e quando menos esperam, sem a menor possibilidade de reação, recebem o impacto de outro carro ou de algum objeto que os matam.
Este ciclo monstruoso de acidentes gravíssimos envolvendo os assombros condutores causam também outra lesão de igual proporção no bolso; o contribuinte é quem paga a conta pelo deslocamento do SAMU, Corpo de Bombeiros, polícia, recuperação da sinalização, atendimento médico hospitalar e o no final da régua, pagamos ainda bem mais caro pela apólice de seguro; as famílias sofrem e no término de toda ocorrência desta natureza, quem morreu é quem se tap, tap, tap...!
As pessoas não se conscientizam que seus carros, por melhores que sejam, estão vulneráveis a vários tipos de circunstâncias; a condição da pista é importante, a manutenção periódica é importante, os pneus em bom estado ajudam muito, conhecer razoavelmente bem as noções de física ajuda; conhecer a potência do carro mesmo em locais permitidos evita acidentes na hora de uma ultrapassagem, saber manusear equipamentos de segurança também é muito útil e manter-se o tempo inteiro atento e prudente e sensato, se não lhe mantiver vivo, pelo menos o ajudará a evitar 99% dos acidentes com morte.
O flagrante do fotógrafo Márcio Arnaldo Borges mostra como se nasce um acidente grave; nas fotos que estão no final deste texto podemos observar um carro miseravelmente mal conservado, com uma espécie de “mudança” acima do teto, presa de uma forma que dispensa comentários, trafegando na saída mais importante de Brasília, sede da Polícia Rodoviária Federal. O fotógrafo afirma que tal foto foi tirada instante depois desta carroça motorizada passar bem enfrente a um posto da PRF, que não o viu ou ignorou as condições do veículo. Observem na última foto que o carro está torto, amarrado de cordas e até a marca original, FIAT, foi substituída por outra, AUDI; pelo visto o motorista se sentiu como numa Ferrari!
O Código de Trânsito é conivente, as polícias fazem vista grossa, a justiça se confunde; a imprensa cobra (providências), o Estado também cobra (impostos e nada mais) e o motorista, este não está nem aí; pouco importa se alguém ficar paralítico ou até mesmo se morrer, até quando o caso não chegue a sua própria família!
A pior desgraça do mundo é compararmos a nossa realidade com a realidade dos outros; eu não vou citar nada dos Estados Unidos, Inglaterra ou da Alemanha, onde há Leis e fiscalizações mais rígidas para o trânsito e onde o caso é tratado como algo sério; em 2009 eu aluguei um carro em Lisboa e fui até a cidade espanhola de Algecíras, no Estreito de Gibraltar; são 650 km sendo que boa parte por auto-estradas bem sinalizadas e cujo pedágios chegam a $ 50,00 Euros por trecho; durante este trajeto que me levou até o Marrocos, encontrei a primeira patrulha pouco antes de chegar na Espanha, após quase 300 km; parei e argumentei com o chefe da polícia o porquê de não haver policiamento; ele me rebateu perguntando quantos acidentes eu encontrei no caminho?
De Lisboa até Elvas, cidade belíssima portuguesa onde eu encontrei a patrulha, eu não contei nenhum acidente e nenhum carro fazendo bobagem na pista; o patrulheiro ainda me disse que eles estavam naquele local apenas esperando um veículo que fora flagrado num radar secreto ultrapassando o limite de 120 km por hora. Depois de Elvas até Algecíras, encontrei apenas mais dois patrulheiros de motocicleta na Espanha e nenhum posto de polícia, da mesma forma que também nenhum acidente eu registrei; no Marrocos, que não tem uma frota muito nova e os motoristas também não são muito hábeis, também não vi nenhum acidente em 550 km percorridos; nos três países, dois europeus e um africano; notei haver respeito às leis de trânsito e quando isso não é rigorosamente punido com altas multas o infrator pode até ficar preso, caso haja reincidência!
Aqui no Brasil o Estado investe em tecnologia moderna, bafômetros, helicópteros, viaturas, armamento pesado, mas esquecem de investir em material humano capacitado na fiscalização rigorosa das Leis; o Estado esquece-se de investir na melhoria das estradas ou ainda de facilitar a vida de quem possui carros que servem apenas para os ferros velhos, mas que insistem em trafegar nas ruas e rodovias como se fossem super máquinas indestrutíveis; principalmente nas áreas mais esquecidas pelo Poder Público o que não falta é visão de atrozes motoristas que trafegam em motos sem capacete, veículos quebrados e em muitos lugares nem a carteira de habilitação eles possuem; tudo isso porque é fácil, simples e barato burlar as Leis, principalmente as de trânsito!
Após minuciosas pesquisas junto a entidades ligadas as seguradoras e organismos públicos eu pude observar que 85% dos carros usados no Brasil não passam no teste do extintor; 56% possuem algum tipo de distúrbio elétrico que compromete inclusive a sinalização; 40% não possuem pneus adequados; 12% os documentos estão em nome de outras pessoas que não são as reais condutoras; mais de 30% das multas extraídas não são pagas ou não encontram destinatários; 78% das estradas brasileiras não possuem condições básicas de tráfego e mais 80% dos motoristas já afirmaram que não sabem lidar direito com condições adversas do clima ou sob forte tensão de uma ocorrência fortuita; além de tudo isso, 45% das mulheres afirmam que não conseguem trocar um pneu sem ajuda extra e 95% de todos os proprietários jamais abriram os manuais do proprietário de seus próprios veículos.
Fica a pergunta: - Será mesmo que nós brasileiros estamos aptos a dirigir um veículo automotor? Responda-me quem puder!
Nada neste país de faz de contas funciona direito; se por um lado há gente morrendo de fome e o Governo diz que vivemos a glória do avanço econômico, também tem muita gente morrendo nas estradas e ruas brasileiras por mera imprudência de uns sádicos e irresponsáveis, parte destes mortos leva a culpa do sistema de um modo geral, que envolve a ação policial pouco eficaz e muitas vezes corrupta (raros casos), até a culpa governamental que vira as costas ou acredita que apenas as publicidades caras das televisões irão resolver o problema grave e crescente.
Da próxima vez que você for ligar seu carro, pense nas pessoas que dependem de sua força de trabalho; aproveite e pense também naquelas que dependem da força de outras pessoas e que você pode ameaçar a vida de uma família inteira; pense na mancha que você pode deixar numa sociedade inteira, da mesma forma que você também poderá ser a próxima vítima! Dirigir com prudência e respeitando as Leis, por mais toscas que elas sejam, pode evitar que você seja um assassino ou uma vítima, a escolha é somente sua!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
Meu site: www.irregular.com.br