BEBA A TAÇA ...ATÉ O FIM
“Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar. Ai, que bom que isso é meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar” (Vinicius de Moraes e Tom Jobim)
E a ansiedade gera um calor no peito que logo se espalha em calafrios precedido por um leve suor nas mãos, que ambos procuram disfarçar, inutilmente.
No primeiro encontro, lábios ressecados antes do primeiro beijo. As palavras se agitam embaraçadas em pensamentos desordenados, inebriantes. E os joelhos parecem não dar sustento ao peso do corpo.
No outro dia, com a paixão a mercê dos desejos e pensamentos, ignoram o mundo lá fora e saboreiam eternas horas de silenciosa saudade ao celular, ou já bailam com vozes ao pé do ouvido, cheias de magia e sensualidade, perfumadas com aquela inquietude, própria dos amantes. Disse o poeta Vinicius de Moraes :
...De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento...
A ciência ainda é incapaz de explicar, completamente, o que desencadeia o processo químico da paixão. Mas os cientistas já associam alguns dos sintomas descritos acima com a produção de substâncias químicas que são fabricadas no corpo da pessoa apaixonada.
Entre elas estão a feniletilamina , a epinefrina (adrenalina), a norepinefrina, a dopamina, a oxitocina, a serotonina e as endorfinas. Todas relacionadas ao sentimento de amor. A feniletilamina, por exemplo, é uma molécula natural semelhante à anfetamina e suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos tão simples como uma troca de olhares ou um aperto de mãos. Esses sintomas aparecem, inopinadamente, e se tornam indicativos indeléveis de quem está amando.
Esse meu pequeno texto não tem a pretensão de explicar o amor quimicamente, mas é sabido que algumas substâncias químicas estão associadas ao ”delírio da paixão” como, de forma idêntica, uma gostosa caminhada tem o poder de produzir endorfinas que, por sua vez, atuam como calmantes, proporcionando sensações de prazer e bem estar. Esses analgésicos naturais são capazes de produzir sentimentos de segurança, paz , tranqüilidade, estabilidade ...
Certamente você já deve ter ouvido a frase: “rolou uma química entre nós”. A interpretação que se deve dar a frase, nada mais é do que dopamina produzindo a sensação de felicidade ou adrenalina causando a aceleração do coração ou, ainda, a noradrenalina, responsável pelo desejo sexual e, por aí vai.
Há quem afirme que a diferença entre uma paixão torrencial e um amor maduro é simplesmente uma questão de liberar a substância certa, ligada àquele momento. Assim, por exemplo, se com o passar do tempo a relação encontrar a probabilidade de arrefecer, a oxitocina e a vasopressina estarão prontas para entrar em cena e “propiciar” uma relação calma, duradoura e segura. É evidente, neste caso, que cada um pode ser o artesão do seu destino.
Viu como são necessários vários ” hormônios” para sentir aquela sensação maravilhosa quando se está amando?
Mas, mais importante que tudo o que se disse é entender que o amor é plenitude, é êxtase. Quando uma pessoa está amando ela se torna mais alegre, mais risonha, mais bonita, adquire um ar de sonhador. O amor é o tempero e o alimento da alma. Pela lente do amor as pessoas enxergam um mundo mais florido, repleto de possibilidades de tudo dar certo, um mundo farto de beleza. E essa beleza aparece refletida nos olhos de quem se ama. De novo Vinícius (e Tom Jobim):
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Estar apaixonado é um dos sentimentos mais gratificantes que existem, principalmente quando essa paixão é retribuída. É a vibração que evidencia a verdade que dormia dentro do corpo, quer se entenda de hormônios ou não. Ela aparece espontaneamente. É contagiante!
Embora a ciência seja uma ferramenta útil deixe, agora, esses dados racionais de lado e ame, viva, chore, ria às gargalhadas, relaxe, abrace, admire a paisagem, viaje, dance, pule, cante, aproveite essa poção mágica e beba a taça, até o fim.
Carlos Roberto Furlan
Eng.Agrônomo / Professor