OVOS DE PÁSCOA
Quarta feira passada, depois do jantar, vi três pequenas crianças, conduzindo pai e mãe, entre milhares de ovos de páscoa no supermercado. Era sufocante: ovos pendurados acima das nossas cabeças, dos lados, na frente e por trás de quem passava; ovos de todos os tipos e tamanhos, imitando os dos pássaros, codornas, até alguns maiores do que os dos gigantes dinossauros. Os pais pareciam sentir-se em território proibitivo; aos brilhantes olhos dos dois meninos e da menina só havia uma coisa: chocolate, um mundo de chocolates, cujo encanto faz também feliz muita gente grande, que não resiste às delícias do cacau. Conheço alguns que escondem chocolate dos filhos, não para que eles não os comam em excesso, mas para assegurar a si próprios a cobiçada mordida do doce escondido no cofre.
Pelo tamanho dos ovos no carro de compra, percebe-se o poder aquisitivo do comprador. Do endinheirado, que deixava aos seus bem vestidos filhos a escolha livre dos maiores e melhores ovos; do pobre pai que bem desejaria presentear à família maior quantidade daqueles melhores doces de Páscoa. Vez por outra, contava e recontava o surrado dinheiro, carregado cuidadosamente no bolso, calculando e recalculando o que poderia comprar, sem retirar na hora do caixa os saquinhos de feijão, arroz e farinha. As crianças insistiam em colocar os maiores e vistosos; o pai os devolvia à prateleira; a mãe pedia pelos filhos; enfim, o pai consentiu comprar três ovinhos do tamanho dos de avestruz.
Na hora do pagamento, apreensivo, acompanhou atentamente o crescente subtotal da pequena feira que pretendia levar para casa. E, à medida que se aproximava do total, ele separava o que não podia levar; dentre esses produtos, ficaram um barbeador descartável, um quilo de costela e três latinhas de cerveja que tomaria no feriado pascal. Mas, os filhos, satisfeitos com os ovinhos de chocolate, compensavam a apreensão do pai operário. A mãe conduziu as crianças ao ponto de ônibus e, ele os acompanhou, absorto, certamente planejando como ganhar mais para não diminuir o chocolate dos filhos. Afinal de contas, sempre constrangido por este vexame no Dia das Mães, das crianças, durante o Carnaval e às vésperas dos aniversários dos filhos, quando avisado por eles ou pela mulher:“ – Tem de comprar presente...” Nesse mundo de desigualdades, a grande maioria não consegue alguma coisa alusiva à Páscoa. A Semana Santa se restringe à Sexta-Feira da Paixão, ao acostumado jejum da duradoura e quotidiana vida de penitência.
Quarta feira passada, depois do jantar, vi três pequenas crianças, conduzindo pai e mãe, entre milhares de ovos de páscoa no supermercado. Era sufocante: ovos pendurados acima das nossas cabeças, dos lados, na frente e por trás de quem passava; ovos de todos os tipos e tamanhos, imitando os dos pássaros, codornas, até alguns maiores do que os dos gigantes dinossauros. Os pais pareciam sentir-se em território proibitivo; aos brilhantes olhos dos dois meninos e da menina só havia uma coisa: chocolate, um mundo de chocolates, cujo encanto faz também feliz muita gente grande, que não resiste às delícias do cacau. Conheço alguns que escondem chocolate dos filhos, não para que eles não os comam em excesso, mas para assegurar a si próprios a cobiçada mordida do doce escondido no cofre.
Pelo tamanho dos ovos no carro de compra, percebe-se o poder aquisitivo do comprador. Do endinheirado, que deixava aos seus bem vestidos filhos a escolha livre dos maiores e melhores ovos; do pobre pai que bem desejaria presentear à família maior quantidade daqueles melhores doces de Páscoa. Vez por outra, contava e recontava o surrado dinheiro, carregado cuidadosamente no bolso, calculando e recalculando o que poderia comprar, sem retirar na hora do caixa os saquinhos de feijão, arroz e farinha. As crianças insistiam em colocar os maiores e vistosos; o pai os devolvia à prateleira; a mãe pedia pelos filhos; enfim, o pai consentiu comprar três ovinhos do tamanho dos de avestruz.
Na hora do pagamento, apreensivo, acompanhou atentamente o crescente subtotal da pequena feira que pretendia levar para casa. E, à medida que se aproximava do total, ele separava o que não podia levar; dentre esses produtos, ficaram um barbeador descartável, um quilo de costela e três latinhas de cerveja que tomaria no feriado pascal. Mas, os filhos, satisfeitos com os ovinhos de chocolate, compensavam a apreensão do pai operário. A mãe conduziu as crianças ao ponto de ônibus e, ele os acompanhou, absorto, certamente planejando como ganhar mais para não diminuir o chocolate dos filhos. Afinal de contas, sempre constrangido por este vexame no Dia das Mães, das crianças, durante o Carnaval e às vésperas dos aniversários dos filhos, quando avisado por eles ou pela mulher:“ – Tem de comprar presente...” Nesse mundo de desigualdades, a grande maioria não consegue alguma coisa alusiva à Páscoa. A Semana Santa se restringe à Sexta-Feira da Paixão, ao acostumado jejum da duradoura e quotidiana vida de penitência.