Texto para um dia de misancene (mise en scène).

Alexandre Menezes

Entre suas frases e pensamentos gravados, pelo grafite no caderno, se acumulam diferentes parágrafos para suas inquietações. Muitas delas refletem lembranças amarelas que já foram muito mais coloridas quando vividas. Para os novos dias, ainda grava, mas não com a mesma alegria. Parece que apesar de uma intensa vivência, que dá origem ao contexto, a luz que invade os olhos nas planilhas de textos dão uma vida aos registros um pouco mais sem graça.

Sorte que ainda existe guardado o grafite. É que para escrever a próxima história exige o máximo de emoção que possa ter. Lembranças de algumas um dia lidas ou por outros contadas em que refletia, nas madrugadas, sobre as mentes e corações de escritores, filósofos e poetas. Dotado de um jeito rústico, quase sem delicadeza, não sabe qual palavras usar numa relação em que se sente a presa. Todo homem amolece quando o coração dá a uma garota o título de “sua princesa”.

Estava lá diante dos olhos do escritor. Aquela linda garota e seus beijos vermelhos que explodem para qualquer amigo, inimigo ou recém conhecido. Na realidade, ela corre sempre em busca do mais exclusivo e personalizado beijo que possa dar para demonstrar conhecimento na modernidade. Nunca reconheceria seus beijos, afinal, a cada semana uma explosão diferente entre diversas caras e bocas.

A princesa explode de tantas maneiras e, diferente do que seria no passado, o poeta de hoje corre. Sem sequer pedir, quando menos se espera, ela dança, balança, esbanja sensualidade. Mesmo diante à realização de um dos delírios, como um covarde, foge. Aprendera tanto experimentando que pode seguir refletindo, “dendalei”.

Pensa que, no seu tempo de jovem menino, ver um peitinho dava um trabalho e tanto. Segue indagando-se sobre quais manuais as jovens folheiam. Parece que antes de uma primeira e verdadeira noite de amor, toda princesa moderna treina, diante de olhos alheios, beijos que explodem e toques delirantes: se descobrem e se mostram.

Como explodiria a princesa ao viver uma noite de amor com um poeta. Noite daquelas em que ele desenharia sacanagens com a ponta da língua em seu corpo, movimentaria ora com ora sem esforço e recitaria versos e sacanagens sussurradas ao ouvido dela? Tem dúvidas, afinal, princesas modernas são especializadas em “misancene” (mise-en-scéne).

Alexandre Menezes
Enviado por Alexandre Menezes em 05/04/2010
Reeditado em 05/04/2010
Código do texto: T2177774
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.