Amizades superestimadas

Antes de sequer começar a pôr em letras o meu pensamento, eu gostaria de esclarecer algumas dúvidas que eu tenho certeza que o título provocou em você que está lendo: Sim, eu sou o mesmo escritor que até pouco tempo defendia a necessidade de amigos para o bom andamento da vida. E sim, eu mudei completamente de ideia. E não, eu não passei a ser um "inimigo dos amigos", por mais estranho que isso soe. Ainda considero amizades coisas muito importantes para as nossas vidas. Mas, não tão importantes como a maioria pensa...

Bem, vamos começar com a conceituação básica das partes, afim de melhor explicar o que realmente está em questão. De que advém a amizade? Da confiança e do auxílio mútuo entre duas partes. Correto?

Pois bem, adiante. Estas partes, ambos seres humanos normais, presumo. Certo? Bom, imagine que todos os seres humanos têm a mesma quantidade de problemas com os quais lidar. Claro, cada um com sua determinada sorte de problemas, mas ainda assim, todos com uma carga de igual valor.

Sendo assim, se é possível imaginar que alguém já tem problemas pra lidar com as suas desilusões, não seria egoísmo demais imaginar que esta poderia preocupar-se também com as infelicidades de outra pessoa?

Quer dizer, nós fazemos um amigo, começamos essa relação e então, sem qualquer satisfação, começamos a depositar as nossas necessidades extras nas costas dessa pessoa e, na maioria dos casos, a recíproca se torna verdadeira. E você passa a esperar que essa pessoa consiga, miraculosamente, resolver os problemas dela e os seus.

Desculpem dizer de forma tão rude, mas, quanta ingenuidade.

Uma pessoa mal consegue carregar os seus problemas, quem dirá os dos outros. Porém, nós temos essa ideia pré-concebida de que os amigos vão nos ajudar a pôr a casa em ordem.

E é por isso que amizade é superestimada! Nós vivemos imaginando que eles serão a solução dos nossos problemas, quando, para nosso espanto, eles imaginam o mesmo de nós. E bem, duas pessoas perdidas não têm mais chances de encontrar o caminho do que uma só. Dois monólogos não formam um diálogo. Em uma fórmula matemática, se tomarmos os problemas como "P" e "X" como sua quantidade, teremos a equação: XPx2/2, o que, como qualquer um que entenda o mínimo de matemática pode compreender, resulta em "X".

Se iludir achando que a solução dos seus problemas está em outra pessoa é algo tão bobo, tão infantil, que até soa engraçado. Mas, é o que fazemos todos os dias. Passamos a bola quanto à solução dos nossos demônios... E no fim das contas, nós esperamos tanto de pessoas que não nos podem dar que, invariavelmente, acabamos nos decepcionando. É por isso que ao nos aproximar de alguém, nós acabamos por condenar a relação ao fracasso. Ou você nunca reparou que os melhores amigos sempre brigam? Ou que o casal de namorados que divide tudo é o que se separa logo em seguida? As pessoas precisam de um certo espaço pra que as coisas funcionem. É preciso confiar até certo ponto, é preciso se jogar até um limite. Duas pessoas não podem ficar perto demais uma da outra, elas acabam colidindo, acabam invadindo o espaço uma da outra. Acabam esperando demais do companheiro. E no fim das contas, se decepcionam... E acabam...

Bom, vocês entenderam... Amizades devem existir, eu não seria radical a ponto de dizer o contrário. Mas acho que deviamos começar a perceber que certas coisas não ficam melhores quando divididas com alguém. As amizades podem ser legais por nos afastarem do sentimento de solidão, mas ela têm um limite. Existem coisas que ter um amigo não irá resolver.

O que eu espero que vocês entendam é que as amizades são importantes, mas não primais, não a reposta. Elas ajudam, só que até certo ponto e de forma controlada. Usando uma analogia bem grotesca, elas são como a cerveja: Te faz bem, te dá coragem, te desinibe, mas em excesso, pode ser bem depressiva.

Meu conselho, como bom pessimista que sou, é: Tenha amigos com moderação.