Bodes, Cabras e Cabritos (Parte 2)
O aumento da população caprina pode ser vista a olho nu. A vizinhança vive com os cabelos em pé com os ruminantes. Mastigam tudo que encontram pelo caminho. Carolina corre atrás de uma cabra, a dita cuja mastigou algumas roupas do seu varal. O portão ficou entreaberto e a infeliz entrou.
Cada vez que o trem de carga passa pelo local, o maquinista não tira o braço da cordinha do apito. O fuá toma conta do bairro. Apito e mais apito. O trem diminui a velocidade para não atropelar nenhum bicho. Mas, um cabrito desavisado continua mastigando uma moita de capim. O maquinista no desespero coloca a cabeça fora e grita para o infeliz. O susto foi grande, mesmo assim, o cabrito é atropelado!
O cabrito perde uma das patas e fica estirado nos trilhos. O seu balido comove todos os que viram o acidente.
“Seu Bastião, um cabritinho do senhor foi atropelado pelo trem”.
“A-tro-pe-la-do! Qual de-les, Jô-ã-o?”
“Não sei! A mãe mandou o senhor correr até lá.”
O homem é conhecido por sua calma. Até ele chegar ao local do acidentado, um quarto de hora se passa.
Bastião pega o cabrito e o leva para casa. Vai e vem à procura de algo. Vem e vai!Vai e vem!O sangue deixa um rastro pelos cômodos.
“O que você procura homem de Deus? Veja a arruaça de sangue feita na casa.”
“Preciso amarrar o cabrito para poder sacrificá-lo. On-de es-tá a cor-da?”
“A mulher entrega a corda e sai de perto para não presenciar a matança.”
O balido do cabrito faz a mulher e os filhos chorarem. Bastião faz o sinal da cruz e uma oração.
“Mulher, o mulher, presta atenção, eu vou limpar o bicho para você testar aquela receita da comadre Tereza, o tal do cabrito a caçadora.
“Bastião, conta direito essa história. O cabrito foi atropelado ou levou um tiro?”