Fim do dia

Na parada do ônibus, no centro de Porto Alegre, aguardo cansado a chegada do coletivo. Mais um dia de trabalho e estudo que chega ao fim. Estou realmente cansado e não consigo pensar em mais nada a não ser chegar em casa, saborear meu jantar, cuidadosamente preparado pela minha mãe, e descansar. Descansar é um direito meu, pensei.

O ônibus chega. As pessoas, meus colegas de espera, se agitam como se, por algum motivo, o nosso transporte pudesse sair antes que todos embarcassem. Finalmente chega minha vez de subir e, como não gosto de correria, acabo ficando sem lugar para sentar. Fico ali parado em pé no corredor do ônibus.

Vago pelos pensamentos e, ao olhar para baixo, me deparo com a visão mais viva que eu já havia experimentado.

Sentado no banco, logo a frente de meu lugar no corredor, vejo um senhor de aproximadamente uns 70 anos, imaginei. Olhos cansados, ombros arqueados, cabelos ralos e grisalhos. Carrega uma pequena sacola plástica com algumas ferramentas de trabalho que não consegui identificar direito. As mãos cansadas e envelhecidas mostram para o mundo as marcas de uma vida sofrida. Os pés calçados por sandálias de borracha apresentam-se como testemunhas vivas dos tantos passos sofridos do homem.

Fiquei observando aquele homem por algum tempo.

Me olho de cima a baixo. Um estranho sentimento de vergonha me abate. Estou realmente cansado, mas não vou descansar esta noite. Este direito é de muitos que não se podem dar o luxo de exercê-lo.

Fabio Camargo
Enviado por Fabio Camargo em 04/04/2010
Reeditado em 04/04/2010
Código do texto: T2176827