Sentimento Nativista
Mais da metade da minha vida eu vivi em Alagoas, o segundo menor Estado do Nordeste e do Brasil. Por uma questão de reconhecimento e gratidão, costumo dizer que lugar bom é aquele em que a gente vive bem. Foi aqui onde constituí a minha família, onde as minhas filhas nasceram, cresceram, estudaram e conquistaram seus empregos através de concurso público, sem a necessidade de “bater continência” para padrinhos políticos. Por isso, tenho cantado, em verso e prosa, as belezas e o encanto de Alagoas. Numa das minhas poesias, assim eu começo: “Foi na década de setenta / Que cheguei em Alagoas / E se aqui eu fiquei / Não foi por motivo à toa / Dos lugares que passei / Nunca vi terra tão boa. É evidente que tudo isto revela um sentimento nativista, por ter criado aqui profundas raízes, durante quatro décadas, tempo em que me permitiu construir uma boa rede de relacionamentos. Portanto, é aqui onde tenho maiores condições de viver socialmente, a partir da família e daqueles que, por afinidade, constituem os agregados.
Por esse apego e amor ao lugar em que vivemos, sentimo-nos profundamente constrangidos quando as estatísticas apontam dados negativos nas áreas essenciais, como educação, saúde e segurança, colocando-nos entre os piores do Brasil. E isto não decorre tão somente de sua economia, mas de sua má distribuição. É um estado em que a minoria tem muito e a maioria muito pouco. Isto a começar pela educação, cujo índice de analfabetismo ainda é o pior de todos os estados brasileiros. Os outros índices são apenas uma consequência, pois sem educação não há desenvolvimento.
Pelo que aqui conquistamos, espero que as minhas filhas, hoje ligadas à área educacional, possam dar a sua contribuição no sentido de que a universidade seja um agente de crescimento do homem na sua forma integral e não apenas na instrução. Não basta o conhecimento técnico. É preciso ter amor ao que se faz e pelo que se faz. Pensar na melhoria de seu povo e de sua terra, ter um sentimento nativista.