Sorte
Veio, como tantos outros, estudar na cidade grande. Ainda hoje é assim.
São poucas as universidades no interior. Já havia prestado os exames para o ingresso, foi aprovado no vestibular. Em suas indas e vindas, descobriu uma vila antiga, casas de dois pequenos quartos. Cozinha e banheiro que davam perfeitamente para organizar a sua casa, sonho de muitos.
Em pouco tempo estava instalado. Amigos não faltavam homens e mulheres. Era opinião daqui, sugestão dali e em pouco tempo nosso amigo dava-se ao luxo de receber os mais chegados. A mesada permitia, sem excessos.
Estudar ciência exata, no caso a Física, não é fácil. Tinha pretensões em transformar-se cientista e gostava muito do seu estudo. Bom aluno, dedicado, reconheciam os mestres e colegas.
Casa bem cuidada, com o auxílio de um conhecido faz-tudo da área, reunia os amigos em noitadas de violão e bebidas. Da sua cidade natal, trazia a receita de uma caipirinha perfeita. Todos os sábados havia reunião.
Num destes, uma moça, poeta de mão cheia, falou sobre a mega-sena acumulada. Fizeram um “bolão”. E acertaram. O que está escrito não se altera. Eram muitos, mas mesmo assim a divisão garantiu um bom dinheiro.
Quando ele foi receber, foi atendido como se príncipe fosse. O dinheiro de lá não sairia, mas a renda era grande. Não sucumbiu entre tantos seios e pernas mostradas, mas tão logo comprou a casa onde morava, que sofreu uma mudança total, pintura, reparos na alvenaria, canos de chumbo tocados por plásticos, pequeno jardim arranjado por ele mesmo.
Uma das suas assessores financeiras conseguiu o intento. Por lá morou uns bons quinze dias. Talvez, quem sabe, poderia ter conquistado o dono, já que além de corpo perfeito, sabia usar todo ele na hora de dar prazer.
O que não sabia é que ele era apaixonado, e tão logo aceito, uniu-se à antiga enamorada. Em ano e meio, tinham um filho, e a casa na rua de pedras ganhou mais dois quartos, respeitando à arquitetura local.