O ( meu) Reality Show
Queira eu ou não, o BBB 10 foi o assunto que acalorou ainda mais o verão brasileiro e que antecipa (para muitos) o ensaio de um outono mais Dourado.
É que (por mais que eu tenha ficado alheia aos acontecimentos da casa), alguém me confessou que, em sua solidão noturna, dividir a sala com os brothers era um alento, uma distração, uma irmandade entre telas.
Tá. O que é que eu como defensora da cultura atrofiada deste país posso dizer num momento destes? Num trejeito de arrogância levantar os olhos e declarar: “Ninguém merece”?!
Não. A experiência diz que não posso lutar contra a rede Globo e que, se persistir e tentar, meu argumento não marcará um ponto sequer no IBOPE.
A verdade nua, crua e indigesta é que a maioria das pessoas que conheço curtiu o reality show! E não estou me referindo às classes X, Y ou Z, mas ao alfabeto todinho!
Sabe aquela sensação que o soldado tem quando se vê sozinho rodeado por dezenas de inimigos? Mesmo quem nunca enfrentou uma guerra percebe o momento em que não adianta mais lutar e reconhece a hora se entregar. Foi o que fiz. Já que protestar ou ficar revirando os olhos (e o nariz) pra cima, não mudaria nada, me entreguei.
Isto não quer dizer que me uni à irmandade sobre o sofá da sala. Unir-se ao inimigo neste caso não me parecia uma boa estratégia. Fiquei de longe, apenas observando.
Em rodas de conversa ficar ouvindo falar sobre Lia (a chata), Maroca (a fogosa gritona), Fernanda (a sonsa), Cadu (o sonso). Sobre os trejeitos de Serginho (o homo), de Dicesar (o outro homo) e Dourado (o homofóbico), foi como estar na primeira aula de química da minha vida. Eu não sabia nada e nem tinha vontade de aprender, mas, precisava entender um pouquinho que fosse para ficar na média (vejam só o poder oculto do mal via satélite).
- Mãe, hoje é a final do Big Brother com a Ivete Sangalo!
O quê? Este menino estava acessando droga no quarto?! A turminha toda da escola deve ser integrante da irmandade... O que faço, escorraço ou apoio? Qual a melhor alternativa numa hora destas? Quem irá vencer, eu ou a Globo?
- Ah é, querido? Hummm... Na hora que a Ivete aparecer você chama a mamãe?(Salva pela Ivete!).
Todos na sala: Cadu (o sonso), Fernanda (a sonsa), Dourado o (homofóbico)... algo me diz que ele merece ganhar...personalidade forte...olhar firme... maxilar contraído...
Gente!!! Não é que a coisa contagia mesmo! Quando dei por mim estava falando com minhas pantufas: “Este Cadu tem um jeito de panaca! E esta Fernanda?! Não fede nem cheira! Vai dar Dourado na certa, apesar de ser descoordenado e não saber dançar. Bial está com os dentes amarelos!”
Canta Ivete!Pelo amor do Cristo!!!!
- Mãe, o Dourado ganhou!!!!
- É filhinho a mamãe viu! (Palmas e vivas!)
O que foi isto? Um sonho, um pesadelo, uma alucinação? Não! É a Superglobo em ação!!!
Pois bem, meus brothers...Op´s! Quer dizer... Pois bem, meus caros, acabou. A casa está fechada para balanço: Dourado ganhou um milhão e quinhentos mil, um carro; uma TV, um celular... Fernanda ganhou cento e cinquenta mil, um AP.... Cadu ganhou cinquenta mil....
E eu?! O que ganho com o meu talento? Tentar ser uma escritora milionária neste país?! Este é o meu reality show... que não passa na Globo.
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