BBB 10 - A vitória da burrice e da aparência
Antes de mais nada, curioso leitor, quero lhe avisar que a crônica que se segue foi escrita por um ferrenho detrator de “reality shows”, em especial este Big Brother Brasil, o pior “pão e circo” que poderia ter surgido no Brasil nos últimos anos. Portanto, se você for fanático por BBBs e chegou a torcer por algum participante desta última edição, muito provavelmente odiará esta crônica.
Entra ano e sai ano, todo ano é a mesma coisa: junta-se um punhado de gente “interessante”, que reproduziria “democraticamente” no microcosmo de uma casa “paradisíaca” - pra não dizer tediosa - “todos” os tipos de brasileiros; aquela abertura com aquela musiquinha insossa do igualmente insosso Paulo Ricardo, perfeita como música tema para um programa que é no mínimo insosso; e o Pedro Bial, o pseudofilósofo, que tem a função de vender gato por lebre, dar um status “artístico” e “sofisticado” para aquela caixa oca. É exatamente isso o que ocorreu quando, na final do BBB 10, ao anunciar a vitória de Marcelo Dourado, o pseudofilósofo proferiu o provérbio muçulmano “Maktub”, tentando enfeitar o que não tinha conteúdo. É como se alguém resolvesse estampar Van Gogh em um copo descartável e o oferecesse a uma Entamoeba histolytica.
E é incrível que a população brasileira tenha dado assim de mão beijada R$ 1.500.000,00 nas mãos de um sujeito que chegou a dizer no início desse BBB que heterossexuais não contraem AIDS, com toda a empáfia e arrogância de um bossal. Depois de muito tempo, o Ministério Público começou a exigir alguma espécie de retratação por parte do programa, já que essa declaração é muito perigosa, num país que ainda tem muitas vítimas não só de AIDS mas como de outras DSTs. E, simplesmente, apenas ocorreu um comunicado ao final de um dos últimos capítulos do BBB, esclarecendo que os heteros também contraem AIDS. E eu acho que o Dourado, por mais milionário que tenha se tornado, saiu da casa achando, coitado, que heteros não pegam AIDS. É absurdo isso! Será que ele não fez a sétima série do Ensino Fundamental, quando nós estudamos o corpo humano, reprodução e comportamento sexual? Será que matou as aulas? Será que colou nas provas? Como pode isso? E ainda ser merecedor de ganhar essa grana toda! Mas aí muitos irão dizer “ele era autêntico, dizia o que pensava”, ou “ ele era carismático”. E daí!? Até o pior dos psicopatas pode ser carismático! E desde quando falar meia dúzia de abobrinhas é sinônimo de autenticidade?
Ah, mas eu me esqueci de que estamos no Brasil, o país que pôs um analfabeto no poder e pôs Collor de novo no governo! O país em que os burros e analfabetos têm mais prestígio entre a população do que os intelectuais! O país em que mais de 90% da população odeia matemática, física e química! E isso me faz lembrar de um comentário de um professor que eu tive no segundo grau, de que essa aversão do brasileiro a qualquer ramo das exatas tem origem histórica, foi um pensamento incutido pelos países do primeiro mundo não só no Brasil como nos países do terceiro mundo, para que esses não viessem a desenvolver tecnologia própria. Se não acreditam, me respondam: Por que será que os EUA sempre são os pioneiros em tecnologia no mundo, ao lado de outros países, como o Japão, é claro? Mas voltando lá atrás, não vou ser hipócrita, digo que o primeiro mandato do analfabeto teve a minha mínima contribuição; só não repeti a dose de ingenuidade na sua reeleição - eu não engoli a ignorância dele quanto ao mensalão que acontecia debaixo do seu nariz! Opa, o que estou fazendo? Fugindo do tema a que me propus, pois isso já seria matéria para uma outra crônica. E como eu sou meio anarquista, não sou muito chegado a política, prefiro mesmo continuar a meter o pau no BBB 10!
Será que o “analfabeto” ganhou o BBB 10 por causa do gosto que o brasileiro sempre teve pelos malandros? A malandragem é marca cultural do povo brasileiro, esse negócio do “jeitinho brasileiro”. Não digo que é de todo ruim, já que a malandragem produziu figuras importantes da nossa música, como o sambista Cartola. Ele, mesmo não tendo terminado o primário, era um poeta. Mas é óbvio que o mesmo não pode ser dito dos “analfabetos” de Big Brother. Por que será, meu Deus, que o “analfabeto” ganhou essa dinheirama toda!? Muitos dirão “ele lutou, batalhou, foi guerreiro”! Mas que esforço há em ficar confinado naquela casa, coçando o saco, nadando na piscina, curtindo uma farra quase sempre, e, se rolar, pegar alguma gostosa, depois votar em alguém para o “paredão” e fingir ter crises de consciência? E ainda temos as provas de resistência, que servem só pra mostrar que o prêmio teve um pouquinho de suor envolvido! Cadê o esforço? Cadê o merecimento? Prova de resistência é a que muitos brasileiros enfrentam todos os dias na miséria, sem ter o que comer, mães vendo filhos morrerem de fome, e os necessitados ganhando a eterna esmola mensal do governo do chamado Bolsa Família. E os brasileiros, ironicamente, foram treinados pelo BBB a torcerem para pessoas que não merecem ser milionárias num país em que impera a desigualdade social, a má distribuição de renda, à qual esses mesmos brasileiros estão submetidos. Isso me lembra, de um boato que circula por aí, o que certo jornalista famoso global disse certa vez quando perguntado sobre o que achava do telespectador brasileiro do jornal em que trabalhava. Ele disse que vinha à sua cabeça o Homer Simpson. Sem comentários!
Claro que essa questão de merecimento é meio complexa para ser avaliada! Não vou negar que de todos os vencedores do BBB existissem alguns que realmente mereciam, que tiveram histórias difíceis e de superação. Mas eu também não sou profundo conhecedor dos participantes do BBB. Aliás, apenas acompanhei uma edição inteira e metade de outras duas. O BBB 10 fui conhecendo através de terceiros, tamanha é a influência deste “pão e circo”, e cheguei a ver cenas esporádicas. Mas o mínimo que eu conheço já é o suficiente para me fazer ter a certeza de que o que menos conta nesse programa é a história anterior dos participantes. O que importa é a aparência. Muitos estão alardeando por aí que essa foi a melhor edição do BBB, talvez seja porque foi, por sinal, a mais fútil de todas, onde reinou a aparência, o festival de homens sarados e mulheres gostosas, e no qual houve uma maior “democracia” nesse microcosmo, incluindo um negro, três GLS e um judeu. Essa “pluralidade” é mais uma aparência. Sendo absolutamente radical, e arrogante - se o Dourado pode falar suas abobrinhas, por que eu não posso? -, digo que, no fim das contas, era tudo “farinha do mesmo saco”! O BBB só teria minha aprovação se tivesse um caráter solidário, se a premiação fosse dada a instituições de caridade, a grupos de pessoas que realmente precisassem de ajuda financeira; poderia cada participante representar alguma instituição, e aquele que vencesse beneficiaria a sua instituição, e os prêmios dele poderiam ser apenas os prêmios obtidos nas gincanas ao longo programa - carros e outras coisas tais. Aí sim, eu aprovaria! Mas solidariedade não dá ibope, muito menos atrairia gente “interessante” para participar do programa! É o retrato do Brasil, país das aparências, do povo que se entorpece em “pães e circos”. Daqui a alguns meses, temos Copa do Mundo, mais “pão e circo”. E no final do ano, eleição, que também é “pão e circo”, por incrível que pareça. A eleição, que deveria suscitar um ato de cidadania e de voto consciente, vira sempre um espetáculo a la BBB. “Brasil, mostra a sua cara!” ou “Que país é esse?” eram gritos conscientes de uma geração que já não tem mais voz, já que hoje em dia o supra-sumo do rock nacional é o NX Zero, com suas letras adolescentes que não dizem nada com nada, e recheiam a trilha sonora da Malhação. Opa, já estou fugindo do tema novamente, me enveredando por caminhos que levariam a outras crônicas! Voltemos ao BBB!
No que se refere ao ibope, a Globo não tem do que reclamar. O BBB chegou à sua décima edição intacto, sem desgaste algum, para minha surpresa. É sempre a mesma bosta, mas o povo gosta. E aqui eu rimei sem querer! E dessa vez aconteceu uma conjunção astral cósmica de conseqüências bombásticas, houve a dobradinha entre o BBB 10 e a novela moralista de auto-ajuda do Manoel Carlos. Realmente, a Globo não tem do que reclamar! O mais interessante é ver como as imagens são manipuladas dentro do BBB, juntamente com uma trilha sonora atraente, para o programa ganhar ares de “novela da vida real”. E no fim das contas o povo leva gato por lebre, acaba acreditando que os participantes do BBB são artistas! E eles próprios lá também têm essa ilusão. Muitos saem de lá fazendo novela! É a degenerescência da classe dos atores. Antes, para atuar na TV, buscavam atores e atrizes de teatro e cinema, depois passaram a buscá-los no mundo da moda, e agora, mais descartáveis do que nunca, buscam os artistas nos ex-BBBs. Aceito a Grazi Massafera como uma exceção, ela não está fazendo feio! Mas a comparação entre a novela do Manoel Carlos e o BBB viria a calhar, já que, apesar dos pesares, a novela, a de verdade, tem um valor relativamente eterno, porque há o trabalho dos atores e atrizes, artistas verdadeiros, que talham feito artesãos os seus personagens. Já o BBB tem um valor minimamente temporário, equivaleria a uma pequena extensão dos 15 minutos de fama profetizados por Andy Warhol, porque ali não existem artistas como querem nos fazer acreditar, apenas pessoas comuns, com maior ou menor grau de futilidade, que não estão ali a trabalho, e sim para um jogo, uma prova valendo uma dinheirama. Um indício desse não-valor do BBB está na própria inviabilidade do programa para ser lançado em DVDs. Afinal de contas, que momentos do BBB poderiam ser “memoráveis” para qualquer espectador que seja? São momentos para serem vistos uma única vez e só! É um programa absolutamente descartável! A Globo, assim como a TV aberta em geral, não hesita em poluir a sua programação com programas cada vez mais descartáveis, sem conteúdo e nada instrutivos. A polêmica afirmação do “analfabeto” do BBB 10 é prova cabal disso! Se a TV é formadora de opinião e deveria ter um caráter instrutivo, por que a Globo na edição do BBB 10 optou por mostrar a “abobrinha” sobre a AIDS? E ainda deixar as coisas por assim mesmo... Programas instrutivos não dão ibope! Então, que invistam em programas “desinstrutivos”, ou melhor, destrutivos mesmo!
Muitos dirão “falar é fácil, quero ver é fazer”! De fato, é só o que me resta mesmo, soltar o verbo, destilar o meu veneno. É sempre esse paradoxo: os intelectuais são aqueles que falam muito mas fazem pouco, enquanto os “analfabetos” são os falam merda mas fazem as coisas, e às vezes não do jeito certo. Mas os intelectuais também não são perfeitos, também erram! Os leitores podem e com certeza devem enxergar em mim apenas algum maluco tentando imitar o Arnaldo Jabor. E essa crônica se estendeu mais do que devia, virou um desabafo com cara de testamento, e é claro que eu sei que este longo desabafo, para muitos dos leitores, vai soar apenas como a vociferação de um despeitado. Afinal de contas, eu não sou nenhum cara sarado, nenhuma mulher gostosa que renderia uma bela capa da Playboy - aliás, espero ardentemente o ensaio de Anamara-, nem tampouco sou um GLS alegre, ou seja, não tenho o perfil de quem poderia merecer R$ 1.500.000,00 . Enfim, só me resta então dar os meus calorosos parabéns ao “analfabeto” do BBB 10, mais um milionário inútil no país da ordem e do progresso, que não hesitaria em trocar a inscrição da sua bandeira pelo “Rebolation, tion”.