## A TELA FURADA ##
Lembro que ainda não lia muito bem.
Bom, não tão bem ao ponto de acompanhar um filme legendado assim, logo de cara.
As amigas de minha irmã, que tinham ido conosco ao cinema, já acompanhavam, afinal eram dois anos mais velhas do que eu, na época, com 8 ou 9 anos.
Quando estava exatamente no meio da frase, saíam as letras. Apesar de criança eu lembro muito bem que me sentia mal com isso. Lembro que as bochechas inchavam de raiva (rs).
Bem, mas como pra tudo eu encontro uma saída (mesmo que seja escapar do problema, quando posso), fiquei observando o cinema. Era um cinema pequeno, que fazia parte da Aeronáutica. Para mim era ótimo, pois não conhecia outro ainda.
Fiquei olhando, reparando os detalhes e vez por outra as risadas me chamavam a atenção para o filme.
Numa das impossibilidades de ler até o fim, escorreguei os olhos pela tela inteira, até o canto. Lá, numa parte mais escura, num ponto mais alto, havia um buraco. Estava anoitecendo, o céu estava lindo. As palmas de um coqueiro ficavam ao vai e vem dos ventos...
Pronto, esqueci completamente do filme, me transportando enfim para o outro lado, o lado que me salvara da inabilidade que tanto me incomodava naquele momento.
Do filme, na verdade, não lembrava muita coisa, mas corri pelas praias, tomei água de coco e fiz castelos de areia num filme imaginário e lindo que só eu consegui assisitr, em cada detalhe sentido por mim.
Bendito buraco na tela, não sabe o bem que me fez, saí feliz do cinema e no blá blá blá das meninas, ninguém soube porque do filme eu nada contei.
(Taciana Valença)