REVANCHISMO SÓRDIDO
Após vários anos sem frequentar colégio, quando eu trabalhava numa renomada Empresa de Comunicações, surgiu uma oportunidade ímpar de terminar o ensino médio, antigo segundo grau, interrompido há muito tempo. Não pensei duas vezes. Não demorou muito, lá estava eu, após o expediente de trabalho, entrando todo contente numa sala de aula com um grande objetivo: concluir o Ensino Médio e quem sabe, posteriormente, cursar uma Faculdade, por que não? Portanto, estava indo tudo muito bem. Inclusive, em pouco tempo, fui até eleito Monitor da minha classe. Que legal! Bola pra frente! O tempo não espera ninguém conforme o antigo clichê...
Coincidentemente, enquanto isso, no meu ambiente de trabalho, numa Agência Postal no interior de um Shopping Center, localizado na Zona Oeste de São Paulo, o clima estava bastante conturbado para o meu lado. Pois certa ocasião, à minha revelia, por ficar algum tempo além do meu expediente, com muita razão por ter que terminar um serviço inadiável na sobreloja da Agência, quando desci para ir embora, eis que presenciei uma cena explícita de assédio sexual, envolvendo o gerente e uma funcionária, que por sinal, no exato momento, estava até atendendo um telefonema ou fingindo, sei lá, enquanto ele acariciava os seus seios e outras partes mais íntimas...Não é nem necessário dizer do susto que eles tiverem no momento em que me viram descer aquela escada...E o que foi mais constrangedor para todos é que eu tinha que passar bem próximo daquele “casal de pombos”..., num ambiente até certo ponto impróprio para o que eles estavam pretendendo...
Passei então rápido, pois não iria ficar por ali para ouvir alguns gemidos. Esses não, porém retaliações, revanchismo, logo após alguns dias, começaram a aparecer contra a minha pessoa. Pensando bem, eu já estava preparado para um diálogo de homem para homem sobre aquele flagrante. Todavia, isso não ocorreu. Aquele estúpido gerente tomou outra atitude mais arbitrária, para não dizer, covarde e arquitetou minha súbita transferência para outra Agência, o que obviamente iria me prejudicar, uma vez que interferiria no horário do meu curso noturno, como infelizmente aconteceu. Santa ignorância da parte dele, pois pensando que agindo assim, colocar-se-ia uma pedra sobre aquele assunto e não se falaria mais nisso, como se eu fosse algum fofoqueiro de plantão.
Em virtude dessa aberração, a princípio, até tentei convencê-lo a escolher outro funcionário para aquela insólita transferência, deixando bem claro os meus reais e justos motivos. Mas, debalde. A sua decisão parecia inquebrantável. Ele se achava o dono do mundo ou o que é pior, da verdade. E o que achei mais inadmissível da sua parte foi que, antes um pouco do ocorrido, numa conversa aleatória e franca ele me confessou que além de ser o meu conterrâneo,havia estudado no mesmo colégio que eu, lá na Capital do nosso longínquo Estado do nordeste brasileiro, etc e tal. E depois então, como se eu fosse o culpado daquela sua investida sexual em pleno local de trabalho, o feitiço virara contra o feiticeiro. Então, usando da sua autoridade de gerente, “bolou” aquela transferência irreversível, a qual mesmo eu tentando revertê-la através de todos os meios lícitos e viáveis, só ouvi promessas e algumas providências postergadas e logo esquecidas, conforme eu já havia previsto.
Portanto, já com quatro anos como funcionário daquela Empresa, sem mais nem menos, fiquei numa situação sui generis: ou pedia a demissão ou cancelaria a matrícula do curso que eu tanto almejava. É óbvio que, infelizmente optei pela segunda alternativa e entreguei nas mãos de Deus a injustiça da qual fui vítima. E ficou assim, como reza o adágio popular: “Se sofres injustiça, cala-te; a verdadeira desgraça é cometê-las!”
P.S : Quanto aquele casal de amantes (gerente e funcionária)se conseguiu algo mais completo em algum motel, sinceramente, não sei. O que procurei foi não comentar nada daquilo que havia visto a não ser agora após muitos e muitos anos, talvez até já esquecido por aquelas pessoa envolvidas naquele gosado episódio, literalmente!...
João Bosco de Andrade Araújo
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