Juras e Promessas um causo.
Juras e promessas um causo.
Política no interior ou de como o padre quase perdeu a batina e continuou rezando.
Quando era pequeno, gritavam nos meus ouvidos:_ “Homem que chora e mulher que jura, é mentira pura e mulher casada, que andava sozinha era andorinha.” E eu menino já passei horas de olho cravado no céu e nunca vi a tal mulher voando em revoadas das andorinhas, mas depois entendi esta coisa contra a mulher. E os anos se passaram e estas perversa afirmativas, me perseguindo querendo dirigir meus mais puros sentimentos e ações.
“Jurar: fazer uma declaração ou afirmação solene em nome de algum ser ou objeto sagrado.
Prometer: “Afirmar, verbalmente ou por escrito (que se há de fazer, dar ou dizer alguma coisa).” (Fonte Wikipédia)
Quando criança tudo nesta vida é festa. Então na época de política lá no interior nem se fala. As musicas (jingles) dos candidatos, os santinhos, os ricos abraçando os pobres, a farta distribuição de balas e pirulitos, todos enrolados com rostos sorridentes e cheios de dentes, para aquelas crianças sem dentes. Homens de sapatos brancos apoiados pelos de botas de couro cano meio longo, que às vezes eram chamados de coronéis, falavam para os homens de botinas, alpercatas ou descalços naquelas praças.*Mas meu pai dizia, que voto era secreto, e que lá na VALE não podia assumir preferências políticas, pois perderia o emprego ou o cargo. Ah, ele era encarregado.
Lembro da época lá pelo fim dos idos anos 60, que um homem da batina se lançou candidato contra os homens de sapatos brancos. No interior é assim, medico é prefeituravel sempre. Naquela época os homens da usina que usavam botinas pretas, não tao elegantes, se “debandearam” para o lado do homem de batina, causando na cidade o maior reboliço. Diziam até que o Bispo de Mariana estava muito bravo com o homem da batina, que não deveria de maneira alguma estar envolvido naquela política/eleição sem devida autorização do Vaticano. Nos palanques nervosos e eloqüentes, os malditos (os de branco) tinham a coragem de falar mal do padre e até acusá-lo de ladrão e outras coisas feias, que não se imputa a um representante de Deus, e nós meninos em coro vaiávamos em nome de Deus, ora essa!
Mas o tal bispo não concordava com as coisas que o homem da batina prometia, e ai a coisa ficou complicada. Entendia que promessa, era como jura e quem usa batina não poderia cometer tal ato. Engraçado é que eu já jurei muito pela felicidade de minha mãe, de meus irmãos, tudo escondido, pois eu não queria ser confundido com a tal afirmativa lá de cima, mas jurava assim mesmo, principalmente quando fragado em algo errado. Nas famosas confissões, eu sempre prometia ao padre Zé Lopão, que não repetiria os mesmos decorados pecados, mas nunca jurei para ele, pois sabia que os pecados confessados e absolvidos por ele, seriam repetidos, logo na saída da igreja, no primeiro campo de pelada de futebol.
Mas voltando aos políticos, esses não tinham medo de nada e prometiam tudo, teve político até que prometeu na época acabar com a pobreza já crescente, era um numero grande de pedintes pelas ruas da cidade. Prometiam até que dariam leite para todas as crianças ate os dois anos. O engraçado de tudo isto, é que sempre que terminavam eles diziam: - “Eu tenho o dito”. Ficava bonita aquela expressão no final, era sempre seguida de palmas, gritos e fogos de artifícios. Um dia num destes comícios, o eleitor P. Vieira, subiu e disparou a falar mal de um candidato. Mas num dado momento, no meio daquela platéia, um cara tirou seu trabuco e mostrou a ele. Foi um corre-corre naquela praça da igrejinha, bem em frente ao Armazém da Vale. Lembro que ele ficou vermelho com cara de assustado e disse: - “Retiro o dito.” Aquilo foi muito engraçado e eu nunca mais vi o tal homem nos comícios.
Mas o homem da batina, seguia sua campanha, com os homens da botina. Os carros ostentavam adesivo com uma bota preta, neste dizia, que os homens de botina votavam no homem da batina. Aquilo causava mal estar no concorrente. Naquela época, não se tinha um policiamento ostensivo, lembro que apenas comparecia, quando comparecia, um soldado muito conhecido por todos, no seu velho Jipe azul, capota de lona. O clima tinha ficado mais tenso e perigoso. A cada comício, sempre tinha um comentário de coisas erradas de cada candidato. Até namorada inventaram para o padre, vejam vocês, se uma coisa dessas se fala de um padre? Mas eles nem estavam ligando, o que “O” lá de cima poderia pensar, nem de castigo divino aquelas pestes tinham medo.
Veio então a votação, total ansiedade com apuração, já se preparavam uma carreata com os poucos carros e caminhões para receber o padre, que segundo diziam tinha ido para uma cidade vizinha, casa de sua irmã, lá perto de Belo Horizonte. Os do outro lado, os sem medo de Deus, diziam que o candidato, tinha ido para perto da cidade de Mariana, descansar no Convento do Caraça, que aproveitara, para fazer mais fofocas com o bispo.
Então um grito ecoou pela cidade, vitoria do padre. Naquele dia, naquela cidade não se falava outra coisa, nos botecos, barbearias e esquinas. Eu menino fiquei doido para ver a tal festa. No clima perguntei ao pai em quem ele votara, mas ele nunca revelara. Mais tarde fui entender sua posição. Quando um dia ele falou olhando para a foto antiga ali na parede de Getulio Vargas, que seria para ele o pai de todos trabalhadores do Brasil. Poxa pai!! Então viva o Getulio!!! Aí ele disse que ele já tinha sido morto e sepultado fazia tempo, e que os trabalhadores estavam órfãos. Havia um vazio nos seus olhos, como querer voltar no tempo e segurar aquela bala.
Assim que entre juras e promessas, aquele padre quase perdeu sua batina, mas foi prefeito da cidadezinha qualquer, onde se prevalecia, o que queria a maioria, os homens de botinas. Assim os trabalhadores começaram a sentir que podiam mudar os rumos das coisas, sem saber, nascia uma nova classe organizada e militante, que aprendia a dizer não ao seu patrão. E o padre os abençoa. Amém.
A todos aqueles que acreditam que podem fazer a diferença.