Pilatos...um covarde?
O Procurador Romano põe-se a lavar as mãos diante dos judeus enfurecidos, exclamando, transido de covardia: - Estou inocente do sangue deste justo.
Plinio Salgado
Voltei ao Quarto Evangelho.
Mais uma vez, li e reli tudo o que João, o Teólogo, conta sobre a prisão, interrogatório e condenação deste extraordinário Homem chamado Jesus.
Quando ele descreve, por exemplo, a prisão, há momentos de surpresas e de gratas emoções.
E Jesus perguntou: "A quem buscais?"
E eles: "A Jesus de Nazaré."
E Jesus: "Sou eu."
Dá-se, então, o beijo traidor de Judas de Curiote, e, em seguida, a prisão.
Inconformado com o que via, Pedro, destemido pescador, saca de sua espada, e sai em defesa do amigo, cortando a orelha direita de Malco, um cupincha do pontífice.
Jesus, porém, o adverte: "Põe a tua espada na bainha." Teria, quem sabe, completado: "Nada de violência, Ô Cefas."
O mesmo Pedro que, horas mais tarde, negaria conhecer Jesus ao ser, pelo sotaque, identificado, pelos algozes, como um amigo próximo do importante preso do Jardim das Oliveiras.
Ao sabor de um torturante conflito de competências, Jesus ficou, um bom tempo, nas mãos de Anás, Caifás e Herodes, até chegar, definitivamente, a Pôncio Pilatos, o procurador romano a quem caberia condená-lo ou libertá-lo.
Colocado diante de Pilatos, começa o histórico interrogatório, diz a Bíblia, "sobre os seus discípulos e sobre a sua doutrina".
Jesus é seguro e resoluto nas suas respostas; parecendo ríspido ao formular algumas delas.
Sobre a doutrina: "Eu falei publicamente ao mundo; ensinei sempre na sinagoga e no templo, onde concorrem todos os judeus, e nada disse em segredo."
E, peremptório, brada: "Por que me interrogas?"
Essa resposta lhe valeu um soco de um guarda atrevido. Mais ou menos como acontece hoje nas abordagens policiais, se a pessoa rendida é pobre e indefesa.
À bofetada, Jesus reage: "Se falei mal, mostra o que eu disse de mal; mas se falei bem, por que me feres?"
Pilatos pergunta à soldadesca enfurecida quais as acusações contra Jesus. Não obtém uma resposta satisfatória, conclusiva, e permanece na dúvida.
Hesitante, faz outras perguntas. Tais como: "Tu és o rei dos judeus?" E Jesus, após uma argumentação misteriosa, mas incisiva, responde: "Tu o dizes, sou o rei."
Pilatos prossegue no seu interrogatório, até confessar publicamente:
"Não encontro nele crime algum."
Pusilânime, tenta trocar o Rabino por Barrabás, um meliante, entregando, porém, à turba delirante e ensandecida a decisão final:
"Jesus ou Barrabás?"
E todos gritam: "Não este, mas Barrabás!"
Pelo que se extrai dos textos sagrados, Pilatos procurava, por todos os meios, evitar a condenação de Jesus, mas curvava-se diante dos apelos frenéticos da multidão que pedia: "Crucifica-o! Crucifica-o!"
Ernest Renan, no seu livro Vida de Jesus, declara com todas as letras: "O que há, com certeza, é que Jesus encontrou Pilatos predisposto a seu favor. O governador interrogo-o com bondade e com a intenção de buscar todos os meios de despedi-lo absolvido."
Mas, na hora do julgamento, ele mostrou-se um procurador amedrontado diante do clamor público que indicava claramente ser desfavorável ao Preso ilustre.
Não fosse, porém, ele um fraco, e não teria passado para a história como um julgador covarde.
Às vezes me ponho a indagar se Pôncio, cheio de hesitações e indecisões, não podia ter, no julgamento de Jesus, recorrido ao princípio - que aliás vem dos romanos - de que a dúvida milita sempre em favor do réu: In dubio pro reo.
Olha gente, esta é a opinião de um renitente pecador que aqui se dá ao luxo de aparecer como advogado de defesa de Jesus de Nazaré.
Creio que Ele, somente por indescritível generosidade me confiaria uma Procuração para acompanhá-lo em qualquer Fôro.
Mas, se o que aconteceu com Jesus "estava escrito", como querer convencer-lhe a não aceitar o "cálice" que o Pai lhe houvera oferecido, segundo suas próprias palavras, trazidas até nós por São João Evangelista.
O Procurador Romano põe-se a lavar as mãos diante dos judeus enfurecidos, exclamando, transido de covardia: - Estou inocente do sangue deste justo.
Plinio Salgado
Voltei ao Quarto Evangelho.
Mais uma vez, li e reli tudo o que João, o Teólogo, conta sobre a prisão, interrogatório e condenação deste extraordinário Homem chamado Jesus.
Quando ele descreve, por exemplo, a prisão, há momentos de surpresas e de gratas emoções.
E Jesus perguntou: "A quem buscais?"
E eles: "A Jesus de Nazaré."
E Jesus: "Sou eu."
Dá-se, então, o beijo traidor de Judas de Curiote, e, em seguida, a prisão.
Inconformado com o que via, Pedro, destemido pescador, saca de sua espada, e sai em defesa do amigo, cortando a orelha direita de Malco, um cupincha do pontífice.
Jesus, porém, o adverte: "Põe a tua espada na bainha." Teria, quem sabe, completado: "Nada de violência, Ô Cefas."
O mesmo Pedro que, horas mais tarde, negaria conhecer Jesus ao ser, pelo sotaque, identificado, pelos algozes, como um amigo próximo do importante preso do Jardim das Oliveiras.
Ao sabor de um torturante conflito de competências, Jesus ficou, um bom tempo, nas mãos de Anás, Caifás e Herodes, até chegar, definitivamente, a Pôncio Pilatos, o procurador romano a quem caberia condená-lo ou libertá-lo.
Colocado diante de Pilatos, começa o histórico interrogatório, diz a Bíblia, "sobre os seus discípulos e sobre a sua doutrina".
Jesus é seguro e resoluto nas suas respostas; parecendo ríspido ao formular algumas delas.
Sobre a doutrina: "Eu falei publicamente ao mundo; ensinei sempre na sinagoga e no templo, onde concorrem todos os judeus, e nada disse em segredo."
E, peremptório, brada: "Por que me interrogas?"
Essa resposta lhe valeu um soco de um guarda atrevido. Mais ou menos como acontece hoje nas abordagens policiais, se a pessoa rendida é pobre e indefesa.
À bofetada, Jesus reage: "Se falei mal, mostra o que eu disse de mal; mas se falei bem, por que me feres?"
Pilatos pergunta à soldadesca enfurecida quais as acusações contra Jesus. Não obtém uma resposta satisfatória, conclusiva, e permanece na dúvida.
Hesitante, faz outras perguntas. Tais como: "Tu és o rei dos judeus?" E Jesus, após uma argumentação misteriosa, mas incisiva, responde: "Tu o dizes, sou o rei."
Pilatos prossegue no seu interrogatório, até confessar publicamente:
"Não encontro nele crime algum."
Pusilânime, tenta trocar o Rabino por Barrabás, um meliante, entregando, porém, à turba delirante e ensandecida a decisão final:
"Jesus ou Barrabás?"
E todos gritam: "Não este, mas Barrabás!"
Pelo que se extrai dos textos sagrados, Pilatos procurava, por todos os meios, evitar a condenação de Jesus, mas curvava-se diante dos apelos frenéticos da multidão que pedia: "Crucifica-o! Crucifica-o!"
Ernest Renan, no seu livro Vida de Jesus, declara com todas as letras: "O que há, com certeza, é que Jesus encontrou Pilatos predisposto a seu favor. O governador interrogo-o com bondade e com a intenção de buscar todos os meios de despedi-lo absolvido."
Mas, na hora do julgamento, ele mostrou-se um procurador amedrontado diante do clamor público que indicava claramente ser desfavorável ao Preso ilustre.
Não fosse, porém, ele um fraco, e não teria passado para a história como um julgador covarde.
Às vezes me ponho a indagar se Pôncio, cheio de hesitações e indecisões, não podia ter, no julgamento de Jesus, recorrido ao princípio - que aliás vem dos romanos - de que a dúvida milita sempre em favor do réu: In dubio pro reo.
Olha gente, esta é a opinião de um renitente pecador que aqui se dá ao luxo de aparecer como advogado de defesa de Jesus de Nazaré.
Creio que Ele, somente por indescritível generosidade me confiaria uma Procuração para acompanhá-lo em qualquer Fôro.
Mas, se o que aconteceu com Jesus "estava escrito", como querer convencer-lhe a não aceitar o "cálice" que o Pai lhe houvera oferecido, segundo suas próprias palavras, trazidas até nós por São João Evangelista.