Recebi um e-mail que, com certeza, já circulou muito. Tratava de algumas regras básicas de educação. Não uso “etiqueta” porque é uma palavra que definitivamente não me atrai, remete a algo rígido e chato.

Voltando às regras contidas na mensagem, uma delas recomendava jamais fazer aquela perguntinha tão conhecida e desagradável – quem gostaria (?) – ao atender telefonemas e antes de dizer se a pessoa está ou não disponível para atender à ligação.

Concordo; perguntinha grosseira e irritante, mas depois de passar por algumas situações mudei de atitude sem rever qualquer conceito sobre boas maneiras.

Situações que levam qualquer pessoa a considerar a possibilidade de jogar o telefone pela janela ou pisoteá-lo até reduzir o pobre aparelho a um amontoado de cacos e acabar no prejuízo, além de enfrentar a expressão temerosa estampada no rosto da secretária ou de quem atendeu a ligação e perceber que ela está cogitando pedir reforços ou mesmo uma camisa de força.

Não, não é exagero e explico.

Há dias em que o trabalho parece impossível de ser concluído, que o objeto de sua pesquisa parece ter sido tirado de circulação por algum duende ou por uma conspiração para o seu insucesso. Bom, afinal todo mundo tem direito a certo grau de neurose em determinadas circunstâncias.

Trabalhando, pesquisando, concentração total e finalmente o texto fluindo, aquele relatório chato está sendo finalizado e vem a interrupção para atender uma ligação de uma pessoa cujo nome é, definitivamente, desconhecido.

Seguindo as regras da boa educação já interrompi o que estava fazendo e atendi ligações em que a pessoa disparava um amontoado de informações, sem dar uma chancezinha de interrupção.

Terminada a ladainha o ataque já parte para pedidos de contribuições para todos os tipos de necessitados e entidades. Muitas, senão a maioria dessas entidades atende à necessidade de mansões, viagens e outras coisinhas do gênero.

Não, não sou a mais desalmada e insensível das criaturas e ajudo sim, o próximo como posso. E quando digo próximo estou falando também daqueles que precisam e estão perto de mim.

 Voltando às ligações, em algumas oportunidades, caso tivesse seguido as instruções, já seria proprietária de quatro carros maravilhosos por ter sido sorteada por uma emissora de televisão e isso sem nunca ter participado de qualquer concurso!

Como sou teimosa e não segui as orientações de ligar para um determinado número, fiquei sem os carros e, muito provavelmente escapei de desencadear algo em algum sistema prisional de segurança máxima.

Mas a minha “sorte” vai ainda mais longe; já fui também premiada com cursos “totalmente gratuitos” de informática, de Inglês, Espanhol e outros tantos impossíveis de enumerar aqui. Com certeza seria hoje uma exímia e poliglota conhecedora de informática, caso tivesse concordado em pagar “apenas” o material, as apostilas.

Nesse ponto, aquela engenhoca chamada telefone já é olhada como “o inimigo” e as pessoas que tentam transformar você numa abominável criatura insensível ou que joga a sorte pela janela não fazem a menor idéia da imensa sorte que têm por não estarem bem ali na sua frente.

São, realmente, pessoas de sorte. De sorte e incansáveis.

Já em casa, ao final do dia que, afinal foi normal considerando a normalidade de uma maratona, acomodada naquela poltrona ou naquele sofá, nas mãos o material que há tempos esperava e que estava louca para ler ou pronta para assistir ao filme que havia reservado.

O tão esperado e abençoado silêncio do telefone, que em outros dias parece que cala para torturar é quebrado como o som de uma gralha no cérebro.

Impossível evitar aquele sorrisinho cínico e maquiavélico enquanto observo a pessoa que atendeu perguntar:

- Quem gostaria?