Textículo
Resolvi fazer este pequeno texto tendo em vista um propósito dos mais simples: enganar você, leitor. Sim, porque muito do que se escreve parece ter por interesse seduzí-lo. Mas eu não. Ao contrário, quero antes interrogá-lo, chateá-lo e, se possível, deixá-lo levemente irritado. Este sim é o famoso conceito de literatura "maldita".
Maldita no sentido de "mal falada", de incômoda e perniciosa. Minhas linhas se coadunam para formar algo que lhe chamem a atenção negativamente. Mas não parará de ler, porque sei que no fundo queres saber o que eu tenho a dizer sobre você. É quase como ir ao psicanalista, ouví-lo resmungar todos os seus "complexos", todos os seus édipos odiosos e cheios de verdade. É triste uma verdade tão reduzida como à da psicanálise. Por mais que ela dê dos seus saltos temerários, algo de verdadeiro ela morde, ela pelo menos arranha.
"Arranhar" é outro bom termo, pois que deste texto não se dirá:"tá aí mais um texto insosso e que passou absolutamente em branco", mas pelo contrário, o que se ouvirá é: "mas que insolência, repudiando o próprio leitor e continuando cinicamente a descrever suas maluquices como as próprias verdades do mundo. Odioso e corrosivo". Antes ser corrosivo do que passar batido. Pelo menos neste texto o leitor não dormirá, sequer hesitará com os olhos. Cada sentença a mais é como um tapa na face, um desafio a um duelo. Mas é desigual, já que o espaço é do autor e o leitor apenas guardará seu ressentimento silencioso para o seu próprio interior.
Não me demorei demais, nem de menos. Escrevi sobriamente e com certa elegância. E no final o leitor se perguntará: "Mas qual o propósito final? Será que tem uma moral por trás do texto?" Respondo negativamente e digo que só o que há é um texto pequeno; pequeno texto; um textículo meu que você, leitor, acaba de pegar por entre os olhos e que acabou por sair um pouco descontente. Mas fazer o que, dizem por aí que tamanho não é documento.