CHEIROS

Hoje cedo, quando me dirigia à clínica para um exame de sangue, comecei a refletir sobre a imensidão de cheiros que existem em nosso redor. Na nossa memória conseguimos até classificá-los e ao senti-los fora do ambiente no qual o classificamos, imediatamente a lembrança nos transporta para àquele lugar ou àquela situação.

Ainda pela manhã senti o cheiro manhoso do homem com o compartilho minha cama, minha vida e que enlaço com pernas e braços, cedo numa preguiça dormente suplicando aos céus não ter que levantar e sair para o trabalho; depois o cheiro saboroso de um cafezinho vindo lá da cozinha; ao beijar meu filhinho de quatro anos, percebi o cheiro azedo, delicioso do seu pescocinho.

Saí pelas ruas e logo fui percebendo diversos cheiros: o cheiro da fumaça dos carros, num trânsito pesado, logo pela manhã; o perfume de um homem que parecia ter saído do banho e se mostrava altivo, disposto a enfrentar mais um dia; o cheiro de alguém que fumava não muito longe de mim; ao passar por uma lanchonete senti também o cheiro de fritura de salgados, certamente um manjar dos deuses para aqueles que não têm tempo de tomar café da manhã.

É curioso como essa percepção me chega agora, principalmente num momento em alguns cheiros me incomodam. Naturalmente só os percebi nesse momento porque eles me incomodam, me provocam náuseas, enjôos até que eu possa ao findar os nove meses sentir o delicioso, terno e doce cheirinho do meu bebê.