No Supermercado
Gosto de escrever Diário. Privado, claro, pois certas coisas vale guardar mesmo só para si, ou para a posteridade. É certo que curiosos sempre vão existir, mas... Sim, abro uma exceção para contar o que hoje se passou comigo SÓ porque o acontecido por certo nem teria sido não fosse minhas aventuras no mundo ‘leitoral’. Desconhece esta palavra? Então lhe diga “muito prazer!” Pode ser que no futuro vocês voltem a se bater, sim você e a ‘leitoral’, digo: neste texto ou em outros (meus), claro!
Esta semana, me vendo com uma folguinha –coisa raaaaaaaaara...- , aproveitei pra sair por aí fazendo visitas – no Recanto. E na escrivaninha da Michele CM, uma das minhas preferidas, topei com o conto “Mentiras sinceras” e quase me acabo de rir. Pela primeira vez na vida me dei conta de que era uma ‘mulher de listinha’ e, como ser normal é coisa que aporrinha - e eu sou quase sempre do contra -, achei questão de honra provar a outra situação.
Por causa dos feriados da Páscoa, eu e meu marido tivemos que fazer HOJE o supermercado, e já no estacionamento começou o experimento. Com o conto da Michele na cabeça, e decidida a provar a mim mesma que não era ‘mulher de listinha’ coisa nenhuma, assumi o carrinho e deixei pra trás, boquiaberto, um marido apavorado com a lista de compras na mão.
- Sim, mas o que eu faço com isto? – perguntou, completamente perdido.
- O meu papel, oras. Hoje quem empurra o carro sou eu! – disse muito segura de mim.
- Não estou entendendo nada...
- Não há nada pra entender, trata-se de mais um experimento literário.
- Quando te conheci, não tinhas manias ‘literárias’... Posso ainda te devolver?
- Tenta!
E fomos nós às prateleiras.
Primeiro tentei deixa-lo livre; vendo que a coisa não evoluía tive que me intrometer:
- Olha, é coisa muito simples: quem tem a lista, para cada item busca seção, prateleira e por último o produto. Pega, joga no carrinho e parte para o próximo item. Simples, não?
A coisa andou mais um pouquinho, devagar quase parando; pra não perder a paciência tive que intervir:
- Olha, quem tem a lista deve também comparar os preços, não é só assim pegar o produto e jogar no carrinho, tem que avaliar a embalagem, qualidade, data de validade...
- É preciso tudo isso? Não! Quero meu carrinho de volta; me dá! me dá! me dá!
- Calma, homem, se sobrevivermos a este experimento seremos pessoas melhores.
- E não disseste que quem empurra o carrinho só faz isto, quer dizer: EMPURRA o carrinho? Fica quieta e me deixa conduzir o processo. Vai que, com todas essas instruções, ao vivo e em tempo real, eu não sei nem o que fazer!
Vi que ele tinha razão. Tentei ficar quieta.
Foi o supermercado mais longo, angustiante– e caro - de toda a minha vida. A todo momento eu queria suspender o experimento e voltar ao padrão normal, mas me controlei. De volta ao estacionamento eu já estava quase dando a cara a tapa quando uma dúvida cruel cortou minha cabeça, como a guilhotina a da Maria Antonieta – coitada...
Será que meu marido não tinha trapaceado?? Fez todo aquele circo de que estava perdido, sem saber o que fazer e tudo, todo o teatro só pr’eu acreditar que sou mesmo mulher de listinha e não de carrinho...? Ah, não!!
- Da próxima vez vais estar mais treinado. – eu disse em tom provocador.
E ele, todo assustado:
- Próxima vez, que próxima vez?
- Carrinho confiscado! Pelo menos mais uma vez, pra tirar a teima.
Então ele apelou:
- Tá certo então. Na próxima vens sozinha. Mulheres não são ‘multi-tarefa’? Nem quero saber o que farás com o carro e a lista, te vira!
E eu:
- Tá bom, tá bom, por isto não se briga...
Mas quer saber de uma coisa: acho que ele trapaceou SIM!
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Nota para Michele:
Como vê, querida, seu conto muito me inspirou; testar a situação foi muito divertido :-) Parabéns pela ótima idéia, e muito mais inspiração!
Michele CM – Mentiras sinceras
http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/2159163
Nota final:
Trata-se de um caso real. Por isso classifiquei como crônica, ao invés de conto. Um abraço fraterno e Boa Páscoa (ou feriado) pra você! :-)