A brincadeira

Descobriu uma diversão que se tornou um vicio para ela, criar personagens e vivenciá-los.

Era fácil, podia ser loira, morena, negra, oriental, ruiva, ser brasileira, americana, japonesa, chinesa, até índia. As possibilidades eram infinitas. Descobriu que os homens adoram serem os outros, serem os amantes, então entrava em salas de bate-papos, aos poucos jogava a isca, mulher madura, linda, gostosa, casada e muito mal amada.

Conforme o chat evoluía, ia para uma conversa mais reservada através de e-mail, ali até fotos mandava, fosse de uma bela negra, uma sensual morena, espetacular loira ou uma exótica índia.

Nomes, problemas do dia a dia, afazeres, criava não só uma vida, mas uma personalidade própria para cada personagem.

Alguns chegavam a dar conselhos de como melhorar a relação com o marido, outros logo ao verem as fotos, diziam que tinha mesmo que arrumar outro que a satisfizesse. Entre várias propostas, até pedido de casamento recebeu.

Quando não gostava ou queria mais, simplesmente deletava.

Até que um dia, começou a conversar com alguém que parecia entender e conhecer tudo dela. Quando viu a foto dele apaixonou-se. Aos poucos foi esquecendo dos outros personagens.

Acordava corria a abrir seus e-mail. Só dormia após ler e responder, chegou a acordar de madrugada para ir ao computador.

Estava cada vez mais envolvida, tinha um medo tremendo de que ele sumisse, nem se preocupava com a possibilidade de seu marido descobrir ou não.

Queria encontrar com ele. Tanto insistiu que ele topou. Marcaram um encontro.

Ela se esmerou, roupa nova, cabelo, maquiagem, Linda, impecável.

Fez questão de chegar na hora. Perdeu a noção de quanto tempo esperou. Será que não era ali? Será que era em outro lugar?

Quando já ia desistir, seu telefone tocou, era ele, tinha comprado um chips só para a web. Ao atender ele foi logo pedindo desculpas, dizendo que um terrível contratempo impedira de chegar na hora, mas que iria de qualquer jeito, e que a amava muito.

Pediu para não se preocupar que esperaria.

E esperou, esperou, esperou.

Chegou em casa arrasada. Foi direto tomar um banho demorado. Quando saiu estava mais aliviada.

Ligou o computador, recebera vários e-mail, ao abrir quase caiu para trás, varias fotos suas, chegando na praça, sentada, andando, falando ao celular, indo embora, voltando, em seu carro e o pior, chegando em sua casa.

Apavorada, intrigada, confusa, com medo. Abriu um outro e-mail, outra foto dele em frente a sua casa, conversando com seu marido. Desligou o computador. Passou o dia inteiro com ele desligado sem saber o que fazer.

Quando seu marido chegou, a abraçou dizendo que um primo seu de outro estado viria passar uns dias com eles até resolver um negócio pendente. Perguntou se tudo bem, ela disse que sim.

Ficou o tempo inteiro sem saber o que pensar, o marido não comentou nada.

À noite tocaram a campainha, seu marido foi atender, escutou vozes alegres de amigos que a tempos não se viam, estava colocando os pratos na mesa de costas para a porta, quando se virou, quase teve um enfarte, o primo era ele.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 31/03/2010
Reeditado em 31/03/2010
Código do texto: T2169106
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